Um ano. Este foi o período da gestão do terreiro coordenada por mim e por Pai Anderson de Oxalá (Pai Peninha), a primeira vez que assumimos a casa de uma forma unificada e não conflituosa a casa do Senhor Xangô das Sete Cachoeiras. Foi um desafio e tanto, algo que sempre esperei, até para poder testar minhas ideias de como gerir uma casa espiritual, era a minha chance de cercear maus hábitos e de ensinar aos iniciados a praticarem uma Umbanda mais leve e menos deturpada por artifícios, ensiná-los que ser é melhor do que ter, que um apetrecho não torna uma entidade mais poderosa e que a disciplina e o conhecimento os tornariam melhores. Foi essa a minha intenção.
Assim como afirmou Platão, existimos antes de tudo no plano das ideias, o reino das intenções e dos planejamentos onde tudo acontece de forma perfeita, conforme - obvio - o planejado. Contudo as ações, ao contrário das ideias que dependem apenas uma mente, as ações reais sofrem a interferência de outras pessoas com igual livre arbítrio e é aí que se iniciam as decepções e o aprendizado. Aquilo que planejei não foi muito bem absorvido pela maioria e completamente rejeitado por muitos, que saíram logo - que bom - e eu persisti. Pensei em desistir praticamente em todas as semanas que sucederam as giras porque a pressão era enorme e estava começando a me custar amizades importantes. Todavia outras amizades de valor infinitamente maior me apoiaram nesses momentos, é o caso de meus companheiros de batalhas e conselheiros Pai Anderson, Leandro Hiroyuki e meu pai e Cambone Esequias (Mojubá), além de minha esposa e cunhados que me ampararam quando vacilei e dei margem para uma onde de críticas que quase me derrubaram como pessoa e como dirigente espiritual.
Foi um ano de altos e baixos e felizmente os momentos altos marcaram mais dos que os dignos de deméritos. Ainda hoje quando paro para me lembrar dos momentos em que todos oraram em uníssono e cantaram idem, contribuindo não apenas para a própria firmeza, mas também para o desenvolvimento dos demais irmãos, seus sorrisos e seu fervor eu ainda me arrepio como se estivesse lá vivendo aquele momento pela primeira vez. Apesar da resistência, nosso templo é composto de pessoas muito talentosas que dão uma tremenda canseira em seus zeladores espirituais, mas com o tempo e repetição acabam aprendendo.
Repetição. Algo que eu odeio, ainda mais numa relação entre pessoas adultas, mas que foi necessário para para progredir com o planejado. Mais que isso, eu diria que foi essencial, um fator crítico do sucesso do planejamento. Não podíamos deixar que readotados os criados desvios de conduta que lutamos para execrar. Felizmente está dando certo, mas ainda há muito mais o que fazer. Trabalharemos as bases e assim evoluiremos para práticas mais sofisticadas da vivência espiritual, contudo para chegar lá inevitavelmente algumas cabeças rolarão e outras voltarão a ativa. É quebrar os ovos para fazer um omelete.
Planejamos, fizemos, checamos e agora analisamos o que foi feito. Meu ex-chefe, Carlos Basso, me disse uma vez que o ciclo PDCA pode ser aplicado ao dia a dia. E não é que ele estava certo?
O barquinho já foi entregue, agora é planejar 2012. Axé.