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15 de ago. de 2011

MARABÔ



Sábado temos duas festas no templo: Omolú e Exú. Para mim é uma data muito especial, data de minha morte e renascimento enquanto umbandista, marca o dia em que aprendi o valor e o significado da palavra lealdade, marca a frase que para mim fio a mais certeira das profecias: Sr. Marabô dizendo: "Sou eu quem limpo a sujeira, logo tudo o que prego será comum aqui". Naquele dia, quando meu pai (e cambone da casa) me contou da frase eu - ainda cego de mágoa - nem liguei, praticamente pense "E daí? está tudo acabado mesmo...", mas o tempo me provou o contrário. O tempo e o Sr. Marabô.

Enquanto reclamavam que ele mantinha abertas as cortinas do congá na linha de Exú, ele dizia: "Sou filho de Deus igual a um Caboclo ou um Preto-Velho, por que eu temeria essa luz? E mesmo que eu temesse, por acaso essa cortina tem algum poder mágico capaz de barrar a Luz Divina? Então deixe-a aberta, por favor"

Exú falando em Deus? Para muitos aquilo era o maior dos absurdos. Ele rebatia: "Ai de mim se não lembrar a todos quem manda aqui". Nesse mesmo ano ele entrou na capela do cemitério, se ajoelhou e orou.

Quando ele assumiu a tarefa de fazer descarregos no templo, disseram que era loucura, que tanto ele quanto eu estávamos passando dos limites. Talvez só eu, pois as afrontas aos costumes retrógrados eram tão grandes que Exú nenhum faria aquilo sem a "influência" de um jovem Pai-pequeno. Ele interveio: "Esses eguns acabam todos na minha banda mesmo, só estou fazendo o meu trabalho diante de seus olhos".

Nasceu a lenda de que Exú não come sal: "Me dê um punhado de sal... viram? É apenas sal, seja na minha boca ou na sua", falava ele enquanto comia pedras de sal grosso.

Hoje sou grato a ele por me ensinar a dar a volta por cima e ter paciência. Chegue lá em casa e veja se alguém estranha as cortinas abertas, descarregos na linha de esquerda, comida com sal ou o nome de Deus sendo citado por um Exú. É tudo coisa comum lá...

E por incrível que pareça ele é o único Orixá que vi até hoje pedindo desculpas a alguém por algo que não deu certo. Com isso aprendi que perfeito é só Deus, mas aprendemos com todos.

Eu poderia escrever horas aqui falando como é o Sr. Marabô, suas vestes, presentes que ganha, lendas de suas outras vidas e tudo mais, mas prefiro falar de seu legado. É assim que se definem os grandes caráteres.

Axé.

3 comentários:

  1. ADOREI O TEXTO....MEUS RESPEITOS!
    SE QUISER TROCAR CONHECIMENTOS FICAREI FELIZ!
    JÁ VIREI SUA SEGUIDORA!

    www.lovediaba.blogspot.com

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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