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27 de jul. de 2011

AOS MEUS FILHOS




Essa semana foi especial para mim, recebi muitos feedbacks de amigos, filhos de santo e ex-filhos de santo sobre a minha postura no templo e maneira de conduzir a casa. Os comentários variaram desde a frieza e distanciamento até a seriedade, comprometimento e amizade sincera com os filhos. Passei a refletir sobre isso.

No post passado dissertei sobre a impessoalidade das grandes casas frente à fraternidade das menores e é fato que o Portal dos Orixás tem nome grandioso e estrutura modesta, então será correto o meu distanciamento? Percebi que a resposta não é exata como um sim ou um não. Fato é que o ser humano vive de comparações: meu cachorro novo frente o meu antigo, minha namorada é ou não mais companheira que a minha ex, meu pai de santo é mais legal que minha mãe de santo? Enfim, estou encabeçando a equipe do portal recente e provisoriamente e é natural essa comparação. Afinal por mais que o discurso seja de continuidade, eu tenho visão diferente sobre a Umbanda e o trato com as pessoas em relação à minha Mãe de Santo. Já disse que não tenho o mesmo carisma ou a mesma candura dela, contudo ambas as fórmulas são de sucesso, cada qual para o seu público e não é a toa que sempre que há essa troca de gestão há também certo êxodo de fiéis e o retorno de outros. Há quem prefira o meu método e quem o deteste, tudo é uma questão de ponto de vista.

Não sou do tipo que deixa os filhos voarem prematuramente para novas e grandes jornadas, para mim o preparo é fundamental e ele vem com base na rigidez da educação cívica e religiosa em que os responsáveis pela espiritualidade figurativamente espremem os filhos. Não tenho dó de combater crendices inúteis, retirar os atabaques para que eles firmem suas cabeças no difícil silêncio, observo os erros e pergunto se sabem a forma certa para ver se a resposta será ou não verdadeira e, se mentirem, os ensino a maneira correta na frente de todos. É assim que eu vejo a criação de médiuns fortes e pessoas sensatas. eu chamo isso de médium cascudo, musculoso, firme, voraz.

Mas não sou tão duro assim. quem me olha no terreiro vê mais sorriso do que siso. Sou próximo de cada um ali, faço questão de ir cumprimentar a todos e congratulo sua evolução. Também seu pedir desculpas quando eu erro e principalmente quando o terreiro erra. E já errou muito com muitas pessoas que hoje me ouvem com mais atenção principalmente quando eu peço que voltem para o seio de seu lar espiritual, que sigam conosco para fazer do Portal dos Orixás uma casa unida e forte e assim multiplicarmos o poder da caridade. Aos meus filhos eu confesso: posso não ficar na sua casa perguntando dos seus problemas, posso não te convidar para batizar meu filho ou para ser padrinho do seu, posso não ir te visitar, posso não te ligar todos os dias, mas eu conheço seu sofrimento e oro por você todos os dias, pela sua família, por sua coroa e por sua proteção. Oro para que você esteja preparado para enfrentar os perigos de fazer o bem e que se sinta feliz por isso.

Este post é para vocês.

Axé.

16 de jul. de 2011

BONSAI E EUCALIPTO



Certa vez uma mãe de santo começou a se gabar de que sua casa estava se tornando uma potência regional, com mais de 50 filhos e com seu nome sendo espelhado pela cidade. Eu sempre me esforçava para colocar seus pés no chão, dizendo que o bom é permanecer pequeno. Um dia então a "Mãe da Potência" teimou em tirar o CNPJ da casa e querer se filiar a uma federação enquanto eu insistia que não era necessário já que a Constituição Federal nos assegurava o direito ao culto e reunião e que o CNPJ só daria o direito à isenção de IPTU enquanto os gastos aumentariam com contabilidade, burocracias em geral, declaração de patrimônio etc. Não satisfeita foi procurar a opinião do sábio Pai Ronaldo Linhares, presidente da FUBABC, que de cara perguntou sobre a casa. ao ouvir a resposta, disparou de forma simples, sem a mínima soberba: "Ah, então vocês são uma casa de pequeno porte, não precisam se preocupar com essas coisas. A constituição assegura direito ao culto, porque 50 pessoas é apenas uma reunião. As casas de grande porte, com centenas e até milhares de filiados devem se preocupar com isso por causa da complexidade da estrutura..." Presenciei aquele diálogo e vi a Mãe-de-Santo voltar ao planeta terra e seguir sua obra humildemente.

Mais recentemente, em conversa com um filho de santo que visitou várias casas nos últimos meses, fiquei sabendo que entre as casas visitadas estava um colégio de Umbanda e magia muito conhecido, que fica no bairro do Belém, em são Paulo. entusiasmado, perguntei:
 - E aí, como foi lá?
 - Pai... ma droga! - respondeu ele em tom sereno.
 - Por que?
 - A casa é grande demais, os visitantes nem podem presenciar a gira, partilhar das energias. Chegam na ante-sala e pegam uma senha para aguardar o chamado para o passe, de lá vão embora.

A conversa tomou outros rumos, mas depois refleti sobre o crescimento exagerado da obra umbandista. A Umbanda é uma religião de contato, de proximidade, é um lugar no espaço onde os aflitos podem sentir as energias se propagarem, podem dialogar com os mentores, lugar onde há um discurso para cada caso, onde há explicações para os problemas das pessoas. Crescimento demasiado gera impessoalidade. Não consigo imaginar o Portal dos Orixás com 800 filhos, gente entrando e saindo sem que eu saiba o nome, de onde vem, para onde vai e porque está na Umbanda. Sou feliz por conhecer cada filho e saber onde e quando afagar ou apertar o cinto deles.

A Umbanda enquanto árvore, tem a obrigação de dar frutos e se multiplicar, mas isso não quer dizer que deva crescer exageradamente. Ainda na metáfora da árvore, veja os eucaliptos como são grandes e sem graça. Agora imagine um bonsai japonês, pequenas árvores cultivadas nesse tamanho durante décadas, que mesmo nanicas florescem e dão frutos.

E então, sua casa é um bonsai ou um eucalipto?

Axé.