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18 de mai. de 2012

AS 7 LÁGRIMAS DO PRETO VELHO



Oi amigos leitores, gostaria de iniciar o texto de hoje falando sobre como mudamos de visão sobre as coisas no decorrer de nossas vidas. Duvida? Pare para pensar na sua adolescência, naquela época tudo parecia conflitante e virtualmente definitivo - você tinha o grande amor da sua vida, amigos eternos, problemas gigantescos e todo dia era o mais feliz ou o mais triste da sua vida, não é? E hoje, como você se vê? Ou melhor, como você vê o passado? Como você define a sua adolescência? Provavelmente (isso é válido, claro, para os leitores adultos) descobriu que a felicidade é situacional e que os problemas passam e que há coisas maiores a se preocupar. Olhamos para o passado com carinho e até um leve desdém, não é? Isso porque mudamos, tudo muda. Contudo as mudanças são tão graduais que mal percebemos, só nos damos conta quando olhamos, com os olhos de hoje, alguma coisa intacta do passado. Foi o que aconteceu comigo essa semana. 

Uma filha de santo viu na internet um texto que a comoveu, imediatamente ela copiou-o e colou em meu facebook dizendo "Lembrei de você. Não sei porque, leia aí...". Era um texto clássico de Umbanda, chamado "As sete lágrimas de um preto velho", que conta a história de um homem que foi em um terreiro e viu um preto-velho chorar, quietinho, em um canto e resolveu pergunta-lhe o motivo daquelas sete gostas que lhe correram a face. Eu já havia lido este texto há uns seis anos atrás e confesso que achei apenas mais uma história bonitinha de se colocar em um mural que jamais seria lido com seriedade por alguém, mas dessa vez a leitura me chocou. De tal forma que cheguei a sentir raiva e indignação. 

A seguir mencionarei cada uma delas e as comentarei para que assim vocês possam me entender um pouco. 

"A primeira, eu dei a estes indiferentes que aqui vem em busca de distração, para saírem ironizando aquilo que suas mentes ofuscadas não podem conceber..." 
Quantas vezes eu já vi pessoas que se dão ao trabalho de sair de seus lares, muitas vezes atravessando cidades, para chegar no templo e ficar conversando com a pessoa ao lado, ficar falando da roupa do irmão ou reclamando da vida. Alguns entram na Casa mas estão com a cabeça no lado de fora, nas baladas que deixaram de ir ou nos problemas amorosos ou de família. Isso vale para os filhos e para quem nos visita também. Terreiro é coisa séria e exige foco total de todos. 

"A segunda a esses eternos duvidosos que acreditam, desacreditando, na expectativa de um milagre que seus próprios merecimentos negam." 
Duvidar todo mundo tem direito, assim como acreditar é uma capacidade de cada um também. Quem vai no terreiro com dúvidas e fica testando os Orixás, sai de lá mais confuso ainda, porque eles intercalam grandes armadilhas com pontuais e profundas verdades. Assim eles tocam o seu espírito e mesmo assim a cética cabeça ainda fica confusa entre fatos e sensações. Não estamos aqui para provar nada a ninguém. 

"A terceira, distribui aos maus, aqueles que somente procuram a UMBANDA, em busca de vingança, desejando sempre prejudicar a um seu semelhante." 
Não é raro aquele que confunde o negativo com o mal. Aqueles que acham que a Umbanda é uma terra sem lei, que basta da r um presente a um Orixá e este lhe proverá o que pedir. Aqui pregamos a Lei do retorno, todos envolvidos em um ato de maldade (Orixá, médium, cambones, a Casa e seus auxiliados) serão cobrados por seus atos. 

"A quarta, aos frios e calculistas que sabem que existe uma força espiritual e procuram beneficiar-se dela de qualquer forma e não conhecem a palavra gratidão." 
Para aqueles que conhecem o poder de Oxalá e mesmo assim pensam em utilizá-lo em causa própria eu não dedico meu argumento. Tamanho o meu desprezo. 

"A quinta, chega suave, tem o riso, o elogio da flor dos lábios mas se olharem bem o seu semblante, verão escrito: Creio na UMBANDA, nos teus caboclos e no teu Zambi, mas somente se vencerem o meu caso, ou me curarem disso ou daquilo." 
Já vi pessoas querendo custear festas inteiras, centenas de sacos de doces para Cosme e Damião e até vestir branco e ingressar na gira. Saíram meses depois porque não ganharam nada em troca. Talvez seja o tipo mais comum dentre os errados em um terreiro. 

"A sexta, eu dei aos fúteis que vão de Centro em Centro, não acreditando em nada, buscam aconchegos e conchavos e seus olhos revelam um interesse diferente." 
Esses são os cupins de nossa madeira, a praga da lavoura. Pessoas que pulam de terreiro em terreiro, dizendo-se entendidos com suas guias brilhantes e seus cocares faraônicos. Chegam, encantam a todos por alguns minutos com a sua “sabedoria” e minutos depois já não agregam mais nada á gira. Assim seguem para outro templo... 

“A sétima, filho notas como foi grande e como deslizou pesada? Foi a última lágrima, aquela que vive nos olhos de todos os Orixás. Fiz doação dessa aos Médiuns vaidosos, que só aparecem no Centro em dia de festa e faltam as doutrinas”. 
O filhos que aparecem três vezes ao ano no terreiro: na festa de Cosme e Damião, na de Pretos Velhos e na de Iemanjá. Via de regra chegam enfeitados como pavões de forma a atrapalhar a mobilidade do Guia ou até mesmo sua sintonia, uma vez que este médium fica tão preocupado se o penacho não vai cair ou se vai sujar a roupa, que esquece-se do seu dever na casa. Este tipo de pessoa faz a gira parecer um teatro, pois sai correndo para o banheiro para se trocar a cada mudança de linha. A corrente vibratória, para que? 

Agora eu entendo porque o preto velho chorou. Axé. 

Em tempo: dia 26/5/12, sábado, será realizada a Festa de Pretos-Velhos no Templo de Umbanda Portal dos Orixás. Estão todos convidados.
Para maiores informações deixe suas questões nos comentários ou ligue 13-94256159








17 de mai. de 2012

Arquétipos, estereótipos e personalidades.




Três itens de grande importância na psicologia, vou conceitua-los para que possamos dar continuidade a nossa leitura de hoje. 

Arquétipo
O Psiquiatra Carl Jung definiu o termo arquétipo como sendo o molde resultante da somatória de experiências vividas pela humanidade de maneira inconsciente em cada ser. 

O que ???

Falando de uma maneira mais simples, nossa amigo Jung diz, que arquétipos são concepções adquiridas não exclusivamente por você leitor, ou pela sua mãe ou só pelo seu pai, esse molde ideológico é construído através de todas as experiências que a humanidade já teve embasadas, na crença, nos valores, na moralidade etc..

Um exemplo disso; ainda quando atuava como analista, Jung tinha pacientes que tinham sonhos e alucinações com mitos que nem se quer conheciam devido a idade que tinham, porém tais mitos já eram muito conhecidos historicamente, como ainda são hoje Hércules, Zeus e toda sua cúpula de deuses. Outro exemplo mais palpável é a forma inconsciente de crença num ser supremo que crianças de 5 a 7 anos tem, mesmo que seus pais nunca tenham falado sobre Deus, Jesus ou qualquer divindade, todas irão questionar, sobre o que existe no céu, ou pra onde iremos depois de morrermos, o famoso consciente coletivo atuando. 

Isso é um arquétipo e ele varia de acordo com o contexto que a humanidade estiver inserida. 

Estereótipos
Simples de ser explicado, quer ver ? 

Filhos de Ogum, são valentes, guerreiros, impulsivos, tem porte forte, são altos, muito de seus filhos seguem profissões que são regidas por alta disciplina e com grande inclinação para o militarismo. 

Viu ? Isso é um estereótipo, é caracterizar alguém por determinadas condições que a pessoa possui, um outro exemplo mais simples. 

Defina um corintiano: Maloqueiro, tatuado, sofredor e mora na Zona Leste.

Personalidade:
A grosso modo é o conjunto de características que determinam o jeito de pensar, sentir e agir de cada ser, em suma junte um arquétipo e um estereótipo e terá uma personalidade. 

Ufa, quanto blá blá blá Arruda, pra que tudo isso ? 

Bom vamos lá, já sabidos do que é e o que significa cada termo acima, podemos dar continuidade a nossa leitura.

Como todo bom ser humano, em determinadas situações é muito fácil agente externar a causa do problema do que assumirmos que ele está dentro de nós, culpar agentes externos nos da aquela falsa sensação de alivio e de estarmos livres de culpa. 

"Hoje meu dia foi uma droga por causa desse transito terrível que já me estressou pela manhã". 

Não, o transito sempre esteve lá todas as manhãs, hoje você estava mais apto a se estressar e assim o fez, seu dia todo foi muito ruim e para se livrar da culpa unicamente sua, externalizou para o transito. 

E não é que o mesmo acontecem com nossos queridos Orixás ? Por diversas vezes, já vi acontecer de pessoas externalizarem seus vacilos para o santo. 

"Ah desculpe, sou filho de Ogum, não me contive e explodi com você por conta disso" ou "Ah é difícil ter perdoar, sabe como é minha mãe Oxum né sou igual ela, sou rancorosa." 

Temos nosso arquétipo, o qual não está inserido diretamente no contexto africano, tais mitos não fazem parte de nosso consciente coletivo, não estamos dentro desse cenário, por lógica esse moldes foram acoplados à nossa personalidade por vivencias mais atuais, pelo ambiente em que se foi educado e formado, afinal nem todos os filhos de Ogum são pessoas violentas, todo filho de Xangô é gordo e todo filho de Oxóssi é magro e introspectivo, alias sou a prova viva disso. 

Assumir totalmente o esteriótipo de nosso pai e de nossa mãe, não é a forma mais saudável de reconhece-los, vamos lembrar que a nossa reforma intima é constante, é a luta diária contra nossos instintos mais bruscos, apresentar tonalidade explosiva por ser filho de Ogum ou de Iansã não é motivo de orgulho, alias está ai a grande prova para o filho de fé, se bem sabem que tem essa tendencia, e que também sabem que isso não faz parte de seu arquétipo, sua verdadeira luta estará em conter tais características sua reforma intima agora já pode ser melhor margeada.

A formula é simples porém a aplicação é difícil mas vai uma frase que ouvi essa semana do meu grande amigo Cláudio, e que pode ajudar vocês a lapidarem seus próprios instintos. 

"Foque nos seus aspectos positivos e apenas corrija aquilo que não é".

É isso meus amados irmãos, que meu pai Oxóssi ilumine a caçada de todos vocês. 

11 de mai. de 2012

PAIS E FILHOS



Se pararmos para pensar, o que somos hoje é resultado do que vivemos em todos os dias anteriores, das pessoas que conhecemos, lugares que frequentamos, enfim, nosso presente e futuro são frutos de nosso passado.

No último dia 21 de Abril fui convidado para a reabertura da Federação de Umbanda Caboclo Cobra Coral e Iansã, uma Casa que para mim e para todos os membros do Portal dos Orixás (Templo que ajudo a dirigir) e até para você, amigo leitor que aprecia o que é escrito nesse blog, tem significado especial, pois foi ali que se edificou grande parte do que eu, meus irmãos e minha Mãe de Santo somos hoje e, com isso, o Templo que cuidamos. Todo o nosso conhecimento e firmeza tem como base o que aprendemos ali.

Era festa de Ogum, um grande retorno depois de quase 4 anos sem sessões naquele pequeno terreiro, também fazia praticamente o mesmo tempo que eu não pisava ali - foi quando comecei a faculdade e as tarefas no Portal dos Orixás se tornaram mais árduas. Adentrei na casa junto com meus filhos, mãe e irmãos e pude rever pessoas muito importantes para mim, dentre elas meu padrinho Petrolino e a minha madrinha Maria, pessoa que me deu um dos conselhos mais profundos para meu desenvolvimento espiritual: "se segure firme, porque assim os Guias fazem mais força para agir e ficam mais presentes. E nunca mude, você é o que Deus quer e se orgulhe de suas virtudes sem ficar vaidoso".

Já deu para sentir o quão pequenino eu era ali naquela casa, não? E eu estava feliz por isso. Feliz por estar lá como filho, como aprendiz observando os grandes trabalharem com a garra de meninos. Uma viagem ao passado, me via uma criança novamente com minhas dúvidas e aquela euforia por saber quem eram meus pais de cabeça, Orixás protetores e demais linhas. Um garoto ávido por conhecimento cantando e batendo palmas, com os olhos brilhando a casa manifestação espiritual, aquela Cláudio que chegava em casa depois da gira comentando com os irmãos "Meeeeeeu, eu quase ão lembro de nada! Como o baiano dançou o hoje, você viu?". Eu estava feliz por não ter comigo a responsabilidade de ser um pai de santo.

Mas nada é como a gente imagina. O dever que nos é conferido pelo astral não pode ser abandonado, sequer temporariamente. Quando a gira começou tudo estava diferente, eu era outra pessoa, uma versão diferente do Cláudio de outrora, mais duro e atencioso, chamando a responsabilidade para mim da mesma maneira que minha Mãe de Santo e meu irmão, Pai Peninha. Os olhares eram inquietos sobre nossos filhos que nos acompanhavam, queríamos saber se estavam bem, se estavam firmes e se precisavam de algo. A gira seguia e eu não me sentia filho como eu queria, eu era ali um visitante na casa em que um dia fui hóspede.

Saí de lá com uma certeza: eu estava feliz. Não da maneira que eu esperava ficar, mas feliz por ter o que eu tenho, por ter sido escolhido pelos Orixás e recebido deles filhos ímpares que, via de regra, me fazem querer largar tudo e desaparecer e logo em seguida aplaudi-los de pé por seus acertos. Estava feliz por poder enxergar as coisas com mais clareza, por ver que sou um bom produto de de minhas experiências - principalmente as negativas como as passagem de Belzebú e a festa de Exú de quatro ou cinco anos atrás, fatos que prometo um dia contar a vocês. Principalmente fiquei feliz por rever grandes amigos e poder, novamente, me espelhar em sua sabedoria.

Umbanda é isso, é visão, admiração e uma surpresa a cada dia.

Axé.

8 de mai. de 2012

As diferenças que nos tornam iguais.




No ápice de meu 7º semestre na Universidade,  depois de 4 anos tomando lugares no fundo da sala, fazendo amizade com as figuras mais comentadas na sala dos professores, com o nome no trendtopics da coordenação do curso e odiado pelos colegas das primeiras fileiras, algo inusitado começou a ocorrer num dos semestres mais tensos do curso. O clima de formatura, a banca de TCC, as provas sem fundamentos que já nos eram aplicadas, o verão em seu máximo no começo do ano, enfim o clima de cansaço e de término estava muito presente no ambiente. 

Dando características que a classe pouco tivera no decorrer desse longo período de estudo, as pessoas interagiam mais, fundão, nerds e pessoas sérias agora já conversavam, riam e reclamavam sobre as mesmas coisas, os que eram odiados no fundo, aos poucos tiveram sua tonalidade de graça, de comentários engraçados, e acreditem tirar a risada de um nerd ou de uma pessoa séria é muito gratificante para os membros do fundão.  Todos ali olhando para um mesmo desafio, para um mesmo medo, o TCC e sua vida profissional. 

Pouco a pouco nesses momentos todas as tribos que podem existir numa sala de aula começaram a perceber o quão incomum são, todos com seus problemas, com seus trabalhos, com sua área de atuação, gostos por time, lugares para sair, lugares que já visitaram, musicas que gostavam de ouvir, festas, filmes, comidas, aquele coletivo nunca esteve tão homogêneo em seu aspecto ideológico, a classe nunca esteve tão unida, fosse em prova, fosse no starbucks, no bar, na balada, no terreiro. 

Ham ???

Sim no terreiro. 

Alunos e alunas engravatados, vestindo xadrez, da tribo do rock, do samba, do surf, os nerds, o fundão e até professores, foram surpreendidos por mais esse tom incomum de suas vidas. O santo, o atabaque, os guias, os orixás e a Umbanda.

Lembro me bem de uma situação, num momento pré prova, onde os que estudaram tentavam se concentrar, e os que não sabiam nem o que faziam ali procuravam lugares bons para se sentarem e irem bem na prova (Leia-se "lugar bom pra colar"), entrei na sala, sentei num lugar perto do meu grupo e ali fiquei esperando e observando toda aquela movimentação, como todo bom ansioso, comecei então a batucar na carteira e cantar e tom baixo:

"Quem rolas as pedra é xangô Kaô..." Quando fui surpreendido por um colega do meu grupo completando o ponto com.. " Flecha de oxóssi é certeira é...".  Isso me causou uma mistura de sensação na qual queria misturar uma boa gargalhada, com a vontade de cantar o ponto mais alto ainda com ele, não bastando essa surpresa, o ponto continuo sendo completado por mais um colega, que por sua vez me surpreendeu mais ainda. Era um dos alunos sérios, da primeira fileira e um dos que não gostava muito do engraçadinho do fundo que aqui vos fala. 

"Quem rolas as pedras é Xangô Kaô" (Eu, cantando um ponto, apenas para passar o tempo.)

Flecha de Oxóssi é certeira é ( Junê, do meu grupo  completando o ponto e mostrando se do santo.)

"É é é..." (Cláudio, o aluno sério da primeira fileira, que terminou o ponto e viu mais dois irmãos de fé ali.)

E foi através do ponto das 7 linhas, cinco minutos antes da prova de varejo, batucando na carteira como um aluno desencanado , que nasceu e firmou se uma grande amizade. O aluno sério da fileira da frente e o aluno que sempre azucrinou a aula no fundão, filhos de mesmo pai (Oxóssi), portadores da mesma fé, da mesma bandeira branca de Oxalá, do mesmo chão onde se bate cabeça e pede benção ao pai e a mãe.  

Diante disso, mais um elo na corrente umbandista foi selado, as visitas na Aldeia de Caboclos, na festa de Nanã a alegria de ter esse grande irmão na obrigação de Exu, e a felicidade de participar junto ao seu terreiro, da festa de meu pai Oxóssi, de seu pai Oxóssi, onde fui muito bem recebido e acolhido por seus amigos, familiares, filhos e filhas.  Mais um colega de mesma atuação profissional, um irmão de santo, um amigo. Deixo aqui com essa passagem a mensagem, de que Umbanda vai muito além das quatro paredes de um terreiro, do que o som dos atabaques e o brado dos caboclos. A Umbanda está em fazer das diferenças as igualdades, em tornar o quente e o frio, morno e confortável para o ser. A Umbanda está nas surpresas, nos surpreendimentos, na amizade e no respeito. 

E pelo aceite do honroso convite que recebi, aqui então me apresento como mais um autor do Ser Umbandista, deixando minha primeira mensagem nessas linhas reais que aconteceram num dia comum. Me chamo Rafael Arruda, sou filho de Oxóssi, sou Umbandista e  sempre sentei no fundão. Será um prazer estar com vocês e aguardem pois teremos muitas e muitas novidades. 

Axé pra quem é de axé. 

27 de abr. de 2012

PROIBIÇÃO NA UMBANDA E OUTRAS RELIGIÕES


Chega a ser engraçado como as ideias surgem, não é? Ontem eu estava escrevendo um texto para a publicação de hoje, mas a inspiração me faltava - escrevia sobre a festa de Ogum e reabertura da Federação Umbandista Caboclo Cobra Coral e Iansã, que em breve será publicado aqui. Mas sem a devida inspiração o texto perde o seu conteúdo, tornando-se apenas forma. Fechei a janela e saí, fui ao mercado sob uma chuva que começava a ganhar volume quando passei por duas senhoras que, pelos trajes, me pareciam evangélicas e conversavam sobre algo que não entendi o que era - e realmente não importava - até que uma delas diz:

"(...)ela ainda não pode fazer porque a igreja não permite isso(...)"

Parei um pouco para pensar sobre isso. É realmente uma incumbência da religião decidir o que um fiel pode ou não fazer? Podemos restringir o livre arbítrio da pessoa a esse ponto? Que eu saiba, não. É trabalho da religião mostrar o melhor caminho, servir de guia, de professor a formar pessoas de bom senso, capazes de distinguir o que é certo ou errado em cada situação.

Na Umbanda pregamos a Lei do Retorno, ou seja, tudo o que uma pessoa, pensa, faz ou deseja para o próximo acaba voltando contra ou a favor de si. É responsabilidade de cada um as suas ações, bem como as glórias e penalidades por elas. É obrigação da Umbanda, dos Orixás e dos zeladores da casa manter o diálogo com os filhos afim de alertá-los sobre os perigos de suas decisões, mas daí a dizer que um filho está proibido de fazer esta ou aquela coisa, por pior que seja, isso Orixá nenhum faz - de Ogum ao Cigano, do Boiadeiro à Oxum. eles te dirão que é errado ou até que não podem ajudar, que você estará sozinho nessa.

A decisão de errar pertence a cada um. À religião cabe a obrigação de alertar, não o direito de proibir.

Axé.

12 de abr. de 2012

CONFIAR EM SI

Amigos o texto de hoje é - mais uma vez - sobre aprendizado, contudo fica a observação que sempre faço, muito embora ela nunca tenha feito tanto efeito quanto dessa vez: "Aprendemos mais com nossas falhas. Magnânimo é o homem que aprende com seus deméritos".

Por dias minha Zeladora Espiritual me convocou juntamente de meu irmão de batalha, Pai Peninha, para uma reunião que trataria do desenvolvimento espiritual de parte de nossos filhos. Confesso-lhes que antevia momentos modorrentos de uma mesmice sem fim. Sim, tenho lá os meus preconceitos. Porém é nessas horas que os orixás nos preparam as maiores surpresas, não é mesmo? A vida é assim...

Nos deparamos com um problema que exigiria algum tipo de postura inédita de nós três, tanto no ponto de vista ético quanto no que tange rituais. Seria um esforço para arrastar tudo de volta à normalidade e impedir o desgaste de almas ainda inocentes. E foi aí que meu aprendizado começou.

Irmão em entrei em estado de concentração profunda, fui sugado para algum lugar dentro de mim de forma que os comentários ao redor não passassem de meros ruídos. Aquilo foi compulsório, alheio à minha vontade e disposição - logo eu que sempre afirmei ter mediunidade nenhuma além-templo! Eu vi o que deveria ser feito, não foi ninguém que me soprara ao ouvido, aquilo foi real e aconteceu diante de meus olhos ainda cerrados. Cada ordem, cada passo a ser dado, os pontos riscados, os elementos, tudo. Seria magnífico se eu não tivesse me calado, afinal o pragmático Pai Claudio que sempre afirmou seu ignóbil talento místico estaria afirmando ter ali, diante de todos, pela primeira vez e num momento tão importante, uma viagem astral instantânea que revelaria a (possível) solução de um intrincado quebra cabeças. Estranho, não? Eu achei e - burro -  me calei.

Como resposta a isso obtive o castigo. A inquietação me corroía a alma, as conversas que antes não passavam de surdos ruídos se tornaram num infernal enxame de palavras bimbalhando em minha cabeça. Não resisti e pedi para sair, ir para a rua me parecia a melhor solução naquela hora. Primeiro pé na rua e eu já não estava mais ali e, após um tempo incontável de escuridão, eu soube que o Sr. Exú Marabô nos havia feito uma visita e - pasmem! - dissera tudo aquilo que eu vi outrora.

Horas depois confessei ao Pai Peninha o que havia se passado e como resposta ele me disse - certamente fazendo coro com todos os orixás possíveis: "Você precisa confiar no seu taco".

E eles estavam certos, totalmente certos. Nós temos o poder de buscar as respostas no infinito, basta-nos fé e preparo. Somos capazes de coisas grandiosas todos os dias. Vamos assumir isso?

Axé.

Em tempo: nosso irmão Rodrigo Conceição está internado no Hospital Municipal de Itanhaém com quadro grave de apendicite. Fizemos uma grande corrente de oração e ele está melhorando, por isso peço a todos os irmãos que oremos juntos por ele todas as noites, até que ele volte para sua família e amigos. Amém.

6 de abr. de 2012

O MESMO NOME


Quem é médium via de regra acaba desenvolvendo um carinho fraternal com seus guias protetores, por inúmeros - e compreensíveis - motivos, que vão desde a afinidade com o axé do Guia (que nos faz bem, nos purifica, pois enquanto eles se valem de nosso corpo etéreo estamos recebendo passes), passando pelo aprendizado que temos a cada dia, pela admiração que desenvolvemos pela obra e também pela razão história, nossos mentores nos acompanham há vidas, são nossos pares na erraticidade, nos ensinaram em vidas passadas e agora nos ajudam a evoluir enquanto seguem na trilha da Luz.

Contudo a Umbanda tem uma particularidade: os Mentores Espirituais adotam nomes gerais para o trabalho em detrimento de seus nomes de quando encarnados, como Caboclo Flecha de Fogo, Lampião, Pena Branca, Zé Pilintra, Martim Pescador e por aí vai. E com isso pode coincidir de um médium se deparar em outro terreiro (ou até no mesmo que frequenta!) com um Guia cujo o nome de trabalho seja o mesmo de algum Orixá que lhe seja afim. Mesmo não sendo necessariamente os mesmo Orixás (afinal, há apenas uma Maria no mundo?), em 99% das vezes há no médium uma certa insegurança e até ciúmes por conta disso, talvez uma mera insegurança por nos acharmos menos especiais. Os motivos são variados, mas o fato é que com o tempo entendemos e nos acostumamos com isso, eu mesmo por trabalhar com o Sr. Zé Pilintra me deparo com algum Orixá da mesma linha a cada visita que faço em um templo - na casa que frequento, por exemplo, há três!

Embora já acostumado com tais encontros, confesso a vocês que revivi esta ansiedade pueril no último dia 31 quando fui honrosamente convidado pelo meu amigo e irmão de fé, Rafael Arruda, a participar de sua última obrigação no Barco (Curso de formação de sacerdotes) da Aldeia de Caboclos. A obrigação seria ao Orixá Exú, comandada pelo Pai Engels de Xangô e seu respectivo Guardão, Sr. Exú Marabô. Fato é que o Exú que me guarda também carrega este nome e, como havia dito, apesar de estar acostumado com esta situação, confesso-lhes que me senti uma criança na aflição de encontrar pessoalmente pela primeira vez um grande ídolo. Eu estava respeitosamente em silêncio enquanto fotografava a cerimônia quando o vi há duas salas de distância, Pai Engels, corpulento estremecendo-se enquanto entrava no transe e dava passagem ao Exú, sua gargalhada inconfundível atravessou as salas enquanto ele vinha na direção do ponto firmado, no meio do caminho ele cantava e benzia seus filhos. Em segundos me deparei diante daquela figura espiritualmente enorme não tive como não me ajoelhar. O saudei e recebi um forte abraço - aquele abraço acolhedor que todos me falavam - e ele me olhou nos olhos e disse: "A casa aqui é sua, saiba que tudo o que precisar é só me chamar".

Naquele momento eu percebi duas coisas:
  1. Não sei se aquele era o mesmo Marabô que me acompanha. Provavelmente não, mas não me importo.
  2. Somos filhos de todos os Orixás, não importando seus nomes ou se eles se valem de nosso corpo para trabalhar.
Axé.