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8 de mai. de 2012

As diferenças que nos tornam iguais.




No ápice de meu 7º semestre na Universidade,  depois de 4 anos tomando lugares no fundo da sala, fazendo amizade com as figuras mais comentadas na sala dos professores, com o nome no trendtopics da coordenação do curso e odiado pelos colegas das primeiras fileiras, algo inusitado começou a ocorrer num dos semestres mais tensos do curso. O clima de formatura, a banca de TCC, as provas sem fundamentos que já nos eram aplicadas, o verão em seu máximo no começo do ano, enfim o clima de cansaço e de término estava muito presente no ambiente. 

Dando características que a classe pouco tivera no decorrer desse longo período de estudo, as pessoas interagiam mais, fundão, nerds e pessoas sérias agora já conversavam, riam e reclamavam sobre as mesmas coisas, os que eram odiados no fundo, aos poucos tiveram sua tonalidade de graça, de comentários engraçados, e acreditem tirar a risada de um nerd ou de uma pessoa séria é muito gratificante para os membros do fundão.  Todos ali olhando para um mesmo desafio, para um mesmo medo, o TCC e sua vida profissional. 

Pouco a pouco nesses momentos todas as tribos que podem existir numa sala de aula começaram a perceber o quão incomum são, todos com seus problemas, com seus trabalhos, com sua área de atuação, gostos por time, lugares para sair, lugares que já visitaram, musicas que gostavam de ouvir, festas, filmes, comidas, aquele coletivo nunca esteve tão homogêneo em seu aspecto ideológico, a classe nunca esteve tão unida, fosse em prova, fosse no starbucks, no bar, na balada, no terreiro. 

Ham ???

Sim no terreiro. 

Alunos e alunas engravatados, vestindo xadrez, da tribo do rock, do samba, do surf, os nerds, o fundão e até professores, foram surpreendidos por mais esse tom incomum de suas vidas. O santo, o atabaque, os guias, os orixás e a Umbanda.

Lembro me bem de uma situação, num momento pré prova, onde os que estudaram tentavam se concentrar, e os que não sabiam nem o que faziam ali procuravam lugares bons para se sentarem e irem bem na prova (Leia-se "lugar bom pra colar"), entrei na sala, sentei num lugar perto do meu grupo e ali fiquei esperando e observando toda aquela movimentação, como todo bom ansioso, comecei então a batucar na carteira e cantar e tom baixo:

"Quem rolas as pedra é xangô Kaô..." Quando fui surpreendido por um colega do meu grupo completando o ponto com.. " Flecha de oxóssi é certeira é...".  Isso me causou uma mistura de sensação na qual queria misturar uma boa gargalhada, com a vontade de cantar o ponto mais alto ainda com ele, não bastando essa surpresa, o ponto continuo sendo completado por mais um colega, que por sua vez me surpreendeu mais ainda. Era um dos alunos sérios, da primeira fileira e um dos que não gostava muito do engraçadinho do fundo que aqui vos fala. 

"Quem rolas as pedras é Xangô Kaô" (Eu, cantando um ponto, apenas para passar o tempo.)

Flecha de Oxóssi é certeira é ( Junê, do meu grupo  completando o ponto e mostrando se do santo.)

"É é é..." (Cláudio, o aluno sério da primeira fileira, que terminou o ponto e viu mais dois irmãos de fé ali.)

E foi através do ponto das 7 linhas, cinco minutos antes da prova de varejo, batucando na carteira como um aluno desencanado , que nasceu e firmou se uma grande amizade. O aluno sério da fileira da frente e o aluno que sempre azucrinou a aula no fundão, filhos de mesmo pai (Oxóssi), portadores da mesma fé, da mesma bandeira branca de Oxalá, do mesmo chão onde se bate cabeça e pede benção ao pai e a mãe.  

Diante disso, mais um elo na corrente umbandista foi selado, as visitas na Aldeia de Caboclos, na festa de Nanã a alegria de ter esse grande irmão na obrigação de Exu, e a felicidade de participar junto ao seu terreiro, da festa de meu pai Oxóssi, de seu pai Oxóssi, onde fui muito bem recebido e acolhido por seus amigos, familiares, filhos e filhas.  Mais um colega de mesma atuação profissional, um irmão de santo, um amigo. Deixo aqui com essa passagem a mensagem, de que Umbanda vai muito além das quatro paredes de um terreiro, do que o som dos atabaques e o brado dos caboclos. A Umbanda está em fazer das diferenças as igualdades, em tornar o quente e o frio, morno e confortável para o ser. A Umbanda está nas surpresas, nos surpreendimentos, na amizade e no respeito. 

E pelo aceite do honroso convite que recebi, aqui então me apresento como mais um autor do Ser Umbandista, deixando minha primeira mensagem nessas linhas reais que aconteceram num dia comum. Me chamo Rafael Arruda, sou filho de Oxóssi, sou Umbandista e  sempre sentei no fundão. Será um prazer estar com vocês e aguardem pois teremos muitas e muitas novidades. 

Axé pra quem é de axé. 

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