Quem é médium via de regra acaba desenvolvendo um carinho fraternal com seus guias protetores, por inúmeros - e compreensíveis - motivos, que vão desde a afinidade com o axé do Guia (que nos faz bem, nos purifica, pois enquanto eles se valem de nosso corpo etéreo estamos recebendo passes), passando pelo aprendizado que temos a cada dia, pela admiração que desenvolvemos pela obra e também pela razão história, nossos mentores nos acompanham há vidas, são nossos pares na erraticidade, nos ensinaram em vidas passadas e agora nos ajudam a evoluir enquanto seguem na trilha da Luz.
Contudo a Umbanda tem uma particularidade: os Mentores Espirituais adotam nomes gerais para o trabalho em detrimento de seus nomes de quando encarnados, como Caboclo Flecha de Fogo, Lampião, Pena Branca, Zé Pilintra, Martim Pescador e por aí vai. E com isso pode coincidir de um médium se deparar em outro terreiro (ou até no mesmo que frequenta!) com um Guia cujo o nome de trabalho seja o mesmo de algum Orixá que lhe seja afim. Mesmo não sendo necessariamente os mesmo Orixás (afinal, há apenas uma Maria no mundo?), em 99% das vezes há no médium uma certa insegurança e até ciúmes por conta disso, talvez uma mera insegurança por nos acharmos menos especiais. Os motivos são variados, mas o fato é que com o tempo entendemos e nos acostumamos com isso, eu mesmo por trabalhar com o Sr. Zé Pilintra me deparo com algum Orixá da mesma linha a cada visita que faço em um templo - na casa que frequento, por exemplo, há três!
Embora já acostumado com tais encontros, confesso a vocês que revivi esta ansiedade pueril no último dia 31 quando fui honrosamente convidado pelo meu amigo e irmão de fé, Rafael Arruda, a participar de sua última obrigação no Barco (Curso de formação de sacerdotes) da Aldeia de Caboclos. A obrigação seria ao Orixá Exú, comandada pelo Pai Engels de Xangô e seu respectivo Guardão, Sr. Exú Marabô. Fato é que o Exú que me guarda também carrega este nome e, como havia dito, apesar de estar acostumado com esta situação, confesso-lhes que me senti uma criança na aflição de encontrar pessoalmente pela primeira vez um grande ídolo. Eu estava respeitosamente em silêncio enquanto fotografava a cerimônia quando o vi há duas salas de distância, Pai Engels, corpulento estremecendo-se enquanto entrava no transe e dava passagem ao Exú, sua gargalhada inconfundível atravessou as salas enquanto ele vinha na direção do ponto firmado, no meio do caminho ele cantava e benzia seus filhos. Em segundos me deparei diante daquela figura espiritualmente enorme não tive como não me ajoelhar. O saudei e recebi um forte abraço - aquele abraço acolhedor que todos me falavam - e ele me olhou nos olhos e disse: "A casa aqui é sua, saiba que tudo o que precisar é só me chamar".
Naquele momento eu percebi duas coisas:
- Não sei se aquele era o mesmo Marabô que me acompanha. Provavelmente não, mas não me importo.
- Somos filhos de todos os Orixás, não importando seus nomes ou se eles se valem de nosso corpo para trabalhar.
Axé.
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