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6 de abr. de 2012

O MESMO NOME


Quem é médium via de regra acaba desenvolvendo um carinho fraternal com seus guias protetores, por inúmeros - e compreensíveis - motivos, que vão desde a afinidade com o axé do Guia (que nos faz bem, nos purifica, pois enquanto eles se valem de nosso corpo etéreo estamos recebendo passes), passando pelo aprendizado que temos a cada dia, pela admiração que desenvolvemos pela obra e também pela razão história, nossos mentores nos acompanham há vidas, são nossos pares na erraticidade, nos ensinaram em vidas passadas e agora nos ajudam a evoluir enquanto seguem na trilha da Luz.

Contudo a Umbanda tem uma particularidade: os Mentores Espirituais adotam nomes gerais para o trabalho em detrimento de seus nomes de quando encarnados, como Caboclo Flecha de Fogo, Lampião, Pena Branca, Zé Pilintra, Martim Pescador e por aí vai. E com isso pode coincidir de um médium se deparar em outro terreiro (ou até no mesmo que frequenta!) com um Guia cujo o nome de trabalho seja o mesmo de algum Orixá que lhe seja afim. Mesmo não sendo necessariamente os mesmo Orixás (afinal, há apenas uma Maria no mundo?), em 99% das vezes há no médium uma certa insegurança e até ciúmes por conta disso, talvez uma mera insegurança por nos acharmos menos especiais. Os motivos são variados, mas o fato é que com o tempo entendemos e nos acostumamos com isso, eu mesmo por trabalhar com o Sr. Zé Pilintra me deparo com algum Orixá da mesma linha a cada visita que faço em um templo - na casa que frequento, por exemplo, há três!

Embora já acostumado com tais encontros, confesso a vocês que revivi esta ansiedade pueril no último dia 31 quando fui honrosamente convidado pelo meu amigo e irmão de fé, Rafael Arruda, a participar de sua última obrigação no Barco (Curso de formação de sacerdotes) da Aldeia de Caboclos. A obrigação seria ao Orixá Exú, comandada pelo Pai Engels de Xangô e seu respectivo Guardão, Sr. Exú Marabô. Fato é que o Exú que me guarda também carrega este nome e, como havia dito, apesar de estar acostumado com esta situação, confesso-lhes que me senti uma criança na aflição de encontrar pessoalmente pela primeira vez um grande ídolo. Eu estava respeitosamente em silêncio enquanto fotografava a cerimônia quando o vi há duas salas de distância, Pai Engels, corpulento estremecendo-se enquanto entrava no transe e dava passagem ao Exú, sua gargalhada inconfundível atravessou as salas enquanto ele vinha na direção do ponto firmado, no meio do caminho ele cantava e benzia seus filhos. Em segundos me deparei diante daquela figura espiritualmente enorme não tive como não me ajoelhar. O saudei e recebi um forte abraço - aquele abraço acolhedor que todos me falavam - e ele me olhou nos olhos e disse: "A casa aqui é sua, saiba que tudo o que precisar é só me chamar".

Naquele momento eu percebi duas coisas:
  1. Não sei se aquele era o mesmo Marabô que me acompanha. Provavelmente não, mas não me importo.
  2. Somos filhos de todos os Orixás, não importando seus nomes ou se eles se valem de nosso corpo para trabalhar.
Axé.

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