Engraçado como depois de criar esse blog e voltar a pensar sobre a Umbanda eu comecei a rever e relembrar grandes pessoas que conheci e ficaram pelo caminho. Pessoas por quem eu desenvolvi um amor de pai, de irmão, de amigo. Gente que muito cooperou para a formação do meu caráter, me apoiando, criticando e contendo os meus impulsos quando necessário, nos momentos de extrema euforia ou raiva ou tristeza, enfim, pessoas que me equilibravam.
Se fizeram isso comigo, imagine com os demais irmãos do templo ou com seus pares? Gente que encontrei buscando um sentido, pessoas que acreditavam saber o que é a felicidade e aos poucos foram sentindo o doce sabor de servir ao próximo. Com eles intercambiei valores e garanto que aprendi muito mais do que ensinei, afinal o que um garoto tem a ensinar à velhos lobos já surrados pela vida? Até tem, mas deram muito mais. hoje repasso a quem tem bons ouvidos e paciência para tolerar meu senso de humor falho e inoportuno.
Na passagem de Belzebú - que um dia contarei a vocês - quem me serviu de bastião foi uma dessas pessoas, Vilma Carnevali, senhora franzina e de fala mansa que mal consegue respirar. Mesmo assim ela sabe tocar o coração de quem necessita, planta as dúvidas necessárias para que cresçamos questionadores e fortes, ela enxugou o sangue que me corria solto na alma e que quase me fez desistir da trilha. Tudo isso com palavras, com sua risada carregada de tosses e valendo-se de sua miudeza enquanto deixava-se abraçar. na verdade era eu o abraçado por seu carinho e ternura. Dona de caráter único e retilíneo, inflexível em sua fé, Vilminha é paladina incansável e serva de um dom único: o da palavra. Nem me prolongarei em seu dom da visão, de sua sensibilidade ímpar em incorporar bons espíritos, a palavra de Dona Vilma é o remédio exato para para aliviar qualquer dor. Daria minha vida por ela se isso saldasse a dívida de gratidão que lhe tenho. Mas isso não pagaria.
Infelizmente sua saúde não permite que ela viaje até o templo e em virtude disso Pai Benedito das Almas, seu protetor desde sempre, achou por bem que ela se retirasse das atividades do terreiro. tudo aconteceu na maior simplicidade em sua casa, como deveria ser. Benedito veio, falou o que deveria ser dito e retirou, como sempre fez, lágrimas dos olhos dos presentes. Só que dessa vez em sua despedida. Não mais ouviremos o bater do cajado no chão e os dedos não apontarão mais ao céu em sua partida porque Benedito das Almas cuidará de seus filhos a partir do astral.
Eu perdi essa passagem, infelizmente. Vilma e Benedito, lhes devo uma lágrima, mas pagarei em sorrisos.
Amo muito vocês.
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