Certa vez eu tive um sonho que estava mais para insight, sonhei acordado. Foi isso.
Nesse dia eu atravessava então um período de profunda introspecção e releitura de meus conceitos. Estava insatisfeito com os rumos de minha crença, com a superficialidade dos fieis que não compareciam ao templo para doarem-se e sim para receber. Se preocupavam mais com a hora de tomar passe do que em compreender o real sentido de suas vidas, não tinham prazer algum em servir à evolução e sequer se preocupavam em entendê-la. Estava descontente.
Não conseguia entender porque eram tão dependentes assim, pessoas vividas e já calejadas pela vida beiravam o vício por uma consulta. queriam falar sobre seus pais, primos, tias, cachorros, passarinhos por horas a fio. Esperavam que os Orixás resolvessem suas vidas em cada esfera, mesmo que mais insignificante que ela fosse. Viciados, isso que eram. E esse vício ganhava proporções maiores, pois da admiração à entidade vinha a curiosidade em saber como seria receber em seu corpo um espírito que não o seu natural, quais sensações aquilo provocaria, como se perceberia a passagem do tempo estando em transe? Dá para lembrar de algo? Tantas questões e a curiosidade sendo alimentada até que o fiel decide entrar para o corpo mediúnico sem preparo algum, não digo preparo espiritual, pois a casa umbandista está aí para preparar o filho espiritualmente durante a jornada, me refiro ao preparo mental, à maturidade das pessoas que, cegos de vaidade, ao entrar seuquer se dá conta que está firmando um contrato com o mundo e seus problemas a serem solucionados em longo prazo e não somente cumpriram um protocolo de vestir roupas brancas e atravessar o cercado que separa o filho de santo dos consultantes.
Vaidade. Criatura invisível que nos pega pelas solas dos pés, nos cega e entorpece, nos fazendo crer que somos os melhores quando por muito somos reis dentre os insetos. O orgulho em dizer que é umbandista enquanto estufa o peito e se deleita com a expressão de medo do leigo que teme por um feitiço. A vaidade de comprar sempre presentes dos mais caros ao Orixá que necessita apenas do elemental, de algo que faça fumaça ou de uma ferramenta que o caracterize. Na verdade esses mimos são para a pessoa e não para o espírito que pouco se importa com a marca ou forma da oferenda. O médium vaidoso se orgulha de sua condição de umbandista simplesmente porque isso o difere dos demais de seu círculo social e o torna dourado por fora e oco por dentro, típica pessoa que vai ao templo só quando convém sendo que o correto é ir quando convir ao próximo.
Quanto mais filosofava, mais enjoado ficava e maior era a minha aversão a qualquer religião. Foi quando cunharam em mim um nome: Ordem de Umbanda Real. Uma árvore e uma coroa como representação desse sonho, uma nova via - talvez mais simplificada - nos caminhos da religião. Confesso que até hoje não consegui decifrar o que é, mas em meus momentos de decepção e desapego me lembro da Ordem, que não é um portal ou uma tenda - nomes que indicam edificações, estruturas físicas. Uma ordem tem a ver coom união por um propósito indenpendentemente de como se classifiquem os templos ou de seu número de integrantes. E ela é real, não só de realeza mas principalmente de realidade.
Sou membro da Ordem, mas serei o único?
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