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3 de fev. de 2012

SOU SIM


Amigos eu inicio este texto com uma grande revelação: eu sou umbandista. Não estranhem isso, este autor não está ficando louco ou meio perdido porque ficou 20 dias sem escrever aqui. Não. Digo isso porque me sinto maduro o suficiente para abrir ao mundo a minha religiosidade - racional, diga-se de passagem - doa a quem doer, custe o que custar. Já passou a época de o culto afro-brasileiro continuar às margens da sociedade.

Quem lê meus textos sabe de minha aversão à high society umbandista, com seus  prêmios e noites de gala, medalhas e estatuetas, seus livros de teologia que sequer eles compreendem. Mas embora eles passam do ponto com tanta pompa e circunstância, uma coisa eles não negam ao mundo: que são umbandistas, que são gente de terreiro, que tem sangue africano nas veias!

Certa vez fui numa entrevista de emprego numa importante instituição de filantropia, uma vaga de Marketing de encher os olhos, na ficha cadastral havia a questão "qual sua religião?", dediquei alguns segundos para entender como uma religião poderia ser importante em um processo seletivo, se eu me tornaria melhor profissional se fosse evangélico ou budista, talvez. Escrevi "Umbandista" na ficha e, não contente, na hora da entrevista em si eu ainda confirmei que co-dirijo um terreiro de Umbanda e escrevo em um blog sobre o tema. Claro que sequer recebi um feedback da vaga, não que objetivamente a minha condição de espírita tenha me excluído do processo, mas a cara dos demais candidatos e da recrutadora denunciaram a estranheza. Após o processo, curiosamente, alguns candidatos vieram me perguntar sobre o terreiro e o blog. eram umbandistas, mas não falaram.

Para mim aquele dia foi um marco, a data em que decidi não me render ao preconceito branco (no sentido de velado) às religiões ditas pouco ortodoxas. Eu não me envergonho de vestir branco e fios de conta, de ter as mãos cheias de bolhas de sangue, frutos do toque no atabaque, não ligo em estar afônico por ter cantado a noite inteira os cânticos da minha fé - e de milhões de outros brasileiros também! quando me perguntarem eu direi a verdade, direi que sou filho de Pemba, que bato cabeça à Zambi, que viro de caboclo a Exú sem medo de ser feliz.

Quando todos tiverem essa coragem, ser umbandista será algo tão comum quanto ser católico não praticante. E você, vai responder o que quando te perguntarem a religião?

Axé.

P.S.: aproveito o espaço para agradecer a presença dos vários amigos, filhos e irmão em nossa Festa de Oxossi, no Santuário de Umbanda, em São Bernardo do Campo, SP. Quem quiser ver as imagens desse dia histórico é só clicar aqui.

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