No começo de Dezembro eu iniciei uma série de postagens sobre a nossa festa de Iemanjá na qual falei sobre os convites e os sonhos desfeitos. Continuaremos daqui, falando do tempo.
Naquele dia celebraríamos Iemanjá e Iansã, Senhora do Mar e Senhora do Vento, a mãe e a guerreira juntas num dos momentos mais especiais do ano, com gira fora do terreiro em que todos estariam em contato direto com a areia da praia, o cheiro do mar e o vento noturno.
Foi um dia sem sol. Cheguei na praia por volta das 8h da manhã junto de meu pai (e cambone da casa) e o João, filho querido e grande amigo, para começar a cavar a areia, fincar as tochas no chão e montar o congá. As nuvens me deixavam aflito, pois cada um que olhava para o céu afirmava - com certa margem de razão - que iria chover pesado naquela noite. "Eparrei!", eu respondia, já com o medo além do calculável, pois uma forte chuva poderia arrastar as tendas e macular todo o trabalho.
A noite caiu e a gira começou. Saudações feitas, corrente firmada e todos em seus lugares já saudando Iemanjá.
As caboclas de Iemanjá na terra, vibrando em suas médiuns e a gente cantando, cantando até não conseguir mais e quando a voz falhava, cantávamos mais um pouco e, enquanto isso, o mar ressacado invadia a praia, tomava conta da orla como um todo. As ondas bravias vinham do oceano e avançavam sem freio sobre a areia, só parando no barranco que antevia a rua pavimentada. A água consumia tudo, menos a nossa gira. Pode parecer mentira, mas as ondas avançavam e se dissipavam lateralmente diante de nossa porteira.
Cantamos para Iansã. Ventania.
Flores para Inhansã |
Parei onde estava e me dediquei a contemplar o que se passava ali, aquela pintura. Foi quando eu tive uma espécie de epifania: o Orixá é mesmo uma força da natureza! Seria muita coincidência o respeito das ondas e o vento bravio naquela noite (justo naquela!) e me lembrei de uma frase que meu pai me dizia quando eu era um menino: "Respeito gera respeito e respeito se dá". Tivemos as graças da Guerreira e da Grande Mãe porque as respeitamos e tememos como os bons filhos devem fazer.
No dia seguinte, vendo os vídeos daquela noite eu reparei que fiz o movimento de jogar rosas no vento por várias vezes, inclusive na linha de Iemanjá. Sem me dar conta.
E como tudo na Umbanda (e na vida) se encaixa, fica aqui o ponto.
Eram duas ventarolas, eram duas ventarolas
Venta aqui, venta no mar.
Uma era Iansã. Ô Eparrei!
A outra era Iemanjá. Odociá!
Nenhum comentário:
Postar um comentário