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4 de abr. de 2011

O DESCARREGO


Lembro-me bem daquela noite, há não sei quantos anos quando Capitão Alemão - marinheiro e porta-voz do terreiro ao qual sirvo - chamou seus méduins de confiança para uma conversa. Ele nos falou sobre o descarrego, algo que para mim até aquele momento era procedimento de igrejas evangélicas, sobre a dinâmica e  seu objetivo maior: aliviar o peso dos fiéis. enquanto a conversa rolava acerca dos benefícios do descarrego, meu amigos e eu esfregávamos as mãos ávidos para aprender algo novo e aumentar a firmeza de nossas coroas. foi então que o assunto migrou para os riscos e a forma como o descarrego por transporte se dava no astral. Tremi.

O descarrego por transporte tal qual praticado no Portal dos Orixás é de forma simplificada um armadilha de eguns. O fiel que está tomado por más influências adentra da gira e fica diante da entidade responsável pelo descarrego (usualmente são os Exús que fazem, mas não há restrição quanto à linha a fazer) que lança energias positivas que desprendem os eguns do fiel e o lançam nos médiuns receptores que estão localizados alguns passos atrás do fiel. Como os receptores são pessoas firmes de cabeça, preparadas mental e espiritualmente, elas se tornam verdadeiras prisões para os espíritos ruins que incorporam nos médiuns e sofrem com o peso do preparo de suas coroas, não conseguindo assim desaparecer no astral em busca de outra pessoa para atormentar. Após serem aprisionadas no corpo no médium, a entidade responsável pelo descarrego vá até o egun incorporado e o recolhe no astral enquanto toca a coroa do receptor, fazendo com que o filho de santo volte ao estado consciente. O egun é então encaminhado para os planos superiores para que possa aprender e continuar na senda da evolução. Caso ele ainda guarde rancor e não queira seguir a luz, permanecerá no limbo sob supervisão de algum Exú.

Esta prática requer basicamente quatro tipos de firmeza: do fiel, do Orixá responsável, dos médiuns receptores e da corrente que observa (demais médiuns e visitantes). Se alguma dessas quatro firmezas não estiverem plenas, há o risco de o mau espírito se fortalecer na gira o que pode acarretar em sérias complicações como alguém da corrente observadora  ou até mesmo o próprio fiel ser dominado por algum egun presente, ou até mesmo os receptores terem seu espírito gravemente afastado de seu corpo físico e acabando por se desdobrar a lugares inóspitos do plano astral. Neste último caso há chances - ainda que raras - de os danos à coroa do médium serem irreversíveis. Por isso sessões de descarrego devem ser feitas por membros coroados do corpo mediúnico e a corrente observadora deve se manter em oração ou cantando em respeito ao trabalho que está sendo executado diante de seus olhos, evitando comentários sobre as manifestações vistas ali, que são, em sua maioria, desagradáveis.

Eu como médium receptor afirmo com toda certeza que o descarrego é um dos procedimentos mais perigosos executados num templo umbandista, requer preparo e concentração pois há uma enorme diferença entre incorporar um ente luminoso que te purifica e receber em si um espírito de baixíssima evolução que tem como único propósito se alimentar do que te faz bem. Sempre volto cansado desses procedimentos, contudo a felicidade do dever cumprido e os bons amigos espirituais me dão ânimo redobrado.

Aprendi muito com descarregos, já viajei no astral e pude entender o sofrimento desses irmãos desgarrados que por ignorância acabam maltratando seus semelhantes. Neste post deixo a minha homenagem e meu agradecimento a todos os irmãos de fé que se arriscam em prol do próximo em momentos como este.

Axé.

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