Foto: João Vitor Bailoni |
Olá irmãos umbandistas, como estão todos?
No dia 19 de Janeiro de 2014 meu terreiro realizou sua Festa de Oxóssi, no Santuário Nacional de Umbanda, em São Bernardo do Campo-SP. Foi uma festa linda, cheia de vida e cores. Os caboclos dançando e bradando, o axé maravilhoso dos orixás nos inebriava. Estava tudo maravilhoso.
Mas o bom daquele lugar é o contato entre terreiros distintos. Lá você sai para andar e vê gente passeando, terreiros inteiros prestando suas homenagens aos orixás, entidades incorporadas em seus médiuns andando sozinhas por aí... é divino!
E nessa minha andança, me deparei com uma mulher oferendando um pequeno prato de barro com quiabos e uma cerveja preta nos pés da estátua de Xangô, seu Pai de cabeça. Achei bonito aquilo, a fá e a simplicidade da moça. Eu mesmo, nas raras vezes em que fiz alguma oferenda pessoal à algum orixá, nunca arreei pratos grandes, só os pequeninos, pois, para mim, o que vale é a fé e nossos atos além do oferecimento do prato. Julguei que aquele era o pensamento da mulher, fiquei contente por ela e segui adiante.
Mais tarde eu fui com meus filhos ao Reino de Exú, um reservado num lugar alto e dedicado às oferendas à Exú e Pombogira. Um lugar de energia densa e reflexiva, cercado de urubus que comem os bifes das oferendas, algumas galinhas ciscando a farofa (lá é expressamente proibido qualquer tipo de sacrifício, por isso muita gente deixa os animais vivos lá e vão embora) e muitos pratos oferendados à Esquerda. Lá eu me deparei com a mesma moça de outrora, oferendando um prato aos Exús, só que desta vez a oferenda era enorme! Um prato de barro de uns três palmos de, seguramente, mais de 35cm de diâmetro, todo coberto por filé sangrando, farofa amarela, cebolas, pimentos gordas e vermelhas como sangue, sete charutos e wiskey importado.
Até aí tudo bem, cada um oferenda o que quer, mas me senti intimamente incomodado pela discrepância entre o tamanho das oferendas dadas ao Pai de Coroa da moça e ao seu Exú. Quem sou eu para apontar o dedo ou julgar o trabalho do Guardião na vida daquela moça, mas, cá para nós, nada substitui a presença e a obra do pai em nossas vidas. Eu recebo o Sr. Marabô e sou eternamente grato a tudo o que ele faz por mim a cada dia, mas sei que devo minha vida e caminhos à Oxóssi e Oxum (e Zambi, acima de tudo), por isso eu (vejam bem: EU!) não oferendaria à um guia um prato maior do que aquele que eu dei ao meu pai ou mãe.
Não digo que o prato de Xangô tem que ser enorme, volumoso e cheio de coisas. Muito pelo contrário, para mim as oferendas devem ser simples como a Umbanda é. O que digo aqui é que, de alguma forma, o tamanho da oferenda (e o empenho em montá-la) estão diretamente ligados à importância que damos ao orixá presenteado.
Vou repetir aqui o que sempre digo aos meus filhos: sejamos simples e objetivos, tenhamos sempre o maior respeito e carinho por todos os guias, honremos sempre nossos pais, mães e aqueles que nos amam. Sem luxo, sem ganância e sem egoísmo. Na Umbanda o filho não pede nada para si, só agradece a oportunidade de ajudar.