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30 de dez. de 2013

Vilma e Benedito 2: um ensaio sobre o silêncio

Pai Benedito das Almas incorporado em sua médium protegida, Vilma Carnevalli.
Dona Vilma incorporada no Pai Benedito das Almas dando consulta à sua filha, Letícia
Silêncio. Calem, ao menos hoje, os tambores, as palmas, os sorrisos e os brados. Que o silêncio traduza o que sentimos, o silêncio é irmão do vazio, não é triste e nem feliz, o silêncio é a expressão do intraduzível, o silêncio hoje é de respeito. É silêncio de luto.

Se o que somos hoje é resultado de nossas experiências passadas, furto do que vivemos e o que vivemos não é vivido sozinho, podemos afirmar, com certa margem de certeza, que somos o resultado de nossas relações interpessoais, das amizades e desamores, da alegria e do desterro. Contudo principalmente das amizades, porque os maus momentos, como disse uma vez o Sr. Marabô, nos moldam por fora enquanto os bons acontecimentos nos inspiram e nos dão forças para prosseguir, são o nosso alicerce, nos mudam na essência.

Com base nisso eu posso garantir que se hoje estou escrevendo aqui - com tristeza, eu sei - é porque fui inspirado por pessoas maravilhosas, dentre elas Vilma Carnevalli, mulher e (hoje apenas, feliz ou infelizmente) espírito de luz a quem eu rendi minha primeira homenagem aqui neste blog. Das poucas amizades verdadeiras que tenho, acho que só a Vilma (Mima, Vilminha, Benedito) conseguiu tocar a minha alma e me transformar em uma pessoa melhor.

Mima, aquela figura franzina e enrugada, de fala mansa e dedos amarelados pelo cigarro (vício que a levou à morte), filha de Omolu e Nanã, sempre tinha algo a dizer, era a minha conselheira e pessoa de total confiança. Tanta confiança tinha eu nela que certa vez, enquanto passava por grave provação nas mãos de Belzebú - um Exú ancestral e muito poderoso que resolveu esfregar em minha cara os maus rumos que meu terreiro havia tomado - ele usou a figura de Dona Vilma para me dissuadir da batalha. De repente eu acordei e a vi sentada aos pés de minha cama dizendo que tudo aquilo era coisa de minha cabeça, que eu devia desistir porque estava errado. Então me dei conta de que ela jamais me desencorajaria, foi aí que a fera se revelou e a partir desta revelação eu me tornei mais forte e acabei, junto da Mima e de meus amigos-irmãos, vencendo aquela guerra. Prova de que minha relação com a Vilminha era inabalável, prova de que ela só levava coisas boas às pessoas.

Vilma sabia que iria partir. Seu mentor e grande amigo, Pai Benetito das Almas, havia dito que o momento seria em 2010, contudo o Universo depositou um pouquinho mais de areia em sua ampulheta para que ela desfrutasse da companhia de sua neta Lorena e pudesse compartilhar conosco mais três anos de sua rouca e inconfundível risada que sempre terminava em tosse, dos seus conselhos e sua doçura.

"É, Seu Zé, busque a resposta no silêncio do seu coração", me dizia ela sempre que eu a importunava com minhas intermináveis solicitações de conselhos. "Tome tento, Seu Zé e costure o fundo de sua sacola!", era sua resposta obrigatória ao meu humor ácido e para as minhas provocações.

Não dá para ficar triste por alguém que está seguramente melhor agora, mas também não posso ficar feliz estando longe, fisicamente, de minha grande amiga, dessa pessoa cuja mediunidade e seus feitos de caridade eram sem tamanho, mas que ficavam em silêncio, humildes como ela. Vilma nunca precisou de holofotes e nem de agradecimentos.

Só que hoje você terá, postumamente, eu sei, mas ainda assim terá. E da forma que mais combina contigo, minha amiga: 

OBRIGADO, DONA VILMA!
Grande médium, mulher, amiga e mãe. Eterna saudade de você.

23 de dez. de 2013

CINEMARK Ofende Afro-Religião




Não gosto de ser apelativo, quanto a divulgações e compartilhamentos dos textos do Blog, como profissional da área acredito que isso tenha que acontecer de forma natural, o engajamento surge com o tempo e com a dedicação de nós autores.

Mas pela primeira vez peço que compartilhem, postem, divulguem e gritem com todas as forças, como um brado de caboclo, essa postagem. 

Neste último domingo, 23/12/2013, minha namorada e eu estávamos passeando pelo Shopping Eldorado em São Paulo, fomos até o Cinemark ver os filmes que estavam em cartaz, para nossa surpresa encontramos uma ação de marketing que nos horrorizou, algo completamente preconceituoso, triste e muito mas muito mau elaborado, deixo aqui minhas claras críticas sobre esse trabalho extremamente racista e que contribui muito para que nos umbandistas e candomblecistas sofram com preconceitos e represálias.

As fotos abaixo mostram a ação que tanto repudio, o filme o qual está sendo divulgado através dessa ação preconceituosa é chamado: "Atividade Paranormal - Marcados pelo mal"

Bom, a única marca do mal que encontramos na nossa sofrida religião, é o preconceito, que dessa vez já não mais pautado pela ignorância mas sim pela malicia do capitalismo em vender mais e mais e em atingir as metas de bilheteria, ao custo do nosso suado esforço religioso em levar a caridade ao próximo. 


Vejam que foram colocados, alguidares, farofas e pimentas. 

Um espelho, fios de contas, todos fazendo alusão a magia negra, a maldade, a tudo o que reprimimos e lutamos contra. 

O Cinemark e a agência responsável pelo Marketing realmente deu o maior tiro no pé do ano, uma por aprovar tal ação e outra por propor algo tão repugnante e por sua produção.



Velas pretas e vermelhas, velas amarelas, fios de conta azuis, velas amarelas de sete dias. 

Artefatos que fazem parte do nosso cotidiano ritualístico, da nossa tradição e da nossa cultura.

Obviamente que em defesa de tal atrocidade as empresas responsáveis por isso irão alegar que da mesmo forma que podemos utilizar isso para nosso culto religioso, pessoas com intenções diferentes da nossa podem utilizar tais objetos na pratica do charlatanismo, na prática de magia negra e outra qualquer desculpa. 

Porém se seguirmos essa linha de raciocínio, seria o mesmo que ao fazer um filmes sobre pedofilia ou corrupção utilizarmos uma batina católica, ou algo que faça referência a igrejas protestantes, certo ? 

Já que muitos padres utilizam de seus objetos e cargos religioso para a prática de crimes também. 


Quem tiver estomago para ver a grande promoção do Cinemark é só dar um pulinho no Shopping Eldorado, fica próximo a estação de trem Hebraica-Rebouças. 

Aqui está o link da página do Facebook dessa promoção criminosa e racistas, mais uma vez peço que com todas as forças, mostremos quem somos e que não aceitamos mais esse tipo de comportamento. 

Facebook: https://www.facebook.com/AtividadeParanormal

Que Oxóssi e Iansã cubram todos com muita luz e muito Axé.

"Triste época! É mais fácil desintegrar um átomo do que um preconceito."
Albert Einstein


17 de dez. de 2013

A escola da dor.


Por tempos aqui não escrevo, não deixo aquelas velhas e medianas linhas, com um pouquinho do que. insignificantemente aprendo no decorrer dessa minha jornada na terra. 

Muito se fala aqui sobre, caridade, evolução, ajuda, mediunidade e lições da vida, escrevemos um pouco aqui daquilo que cotidianamente acontece em todos os lares, com todas as pessoas, do rico ao pobre, do mais esclarecido ao mais ignorante, falamos aqui daquilo que acontece, com crentes, católicos, evangélicos, umbandistas, candomblecistas, budistas e todos os istas que puderem imaginar. 

Pensamos, organizamos e explicamos idéias que qualquer um pode seguir, aplicar e praticar na sua vida, deixamos aqui nosso mero e humilde exemplo, nossa breve historia diante do infinito. 

Deixamos aqui aquilo que acreditamos, aquilo que queremos que seja jogado ao vento e espalhado para os quatro cantos, pois é essa a forma mais preguiçosa que encontrei hoje de fazer muito menos do que devo, de fazer o minimo perante aquilo tudo que recebo todos os dias ao acordar. Que de maneira bem hipócrita deixo somente o bom exemplo, mas que escondo minhas quedas e falhas. Acredito fielmente que vocês aprenderiam muito mais com esses exemplos do "o que não fazer", do que com o "o que devem fazer".

Distante de mim querer ensinar aos outros aquilo que se deve ou não fazer, deixo apenas meu exemplo, minha história. 

E ai está o ponto, minha história. 

Construída e destruída todos os dias, começada e terminada constantemente, repleta de erros e acertos sortudos guiados por aqueles que nos protegem, não muito diferente da sua história, não tão longe da realidade de vocês que ai estão do outro lado da tela. 

Você também, um ser que assim como eu, carregado de instintos, traumas, falhas e personalidades, vícios e virtudes se reformam todos os dias. Assim como um diamante que precisa ser lapidado, nós pobre humanos somos lapidados todos os instantes a todas as falhas que nos resultam no sofrimento escondido que trazemos no mais fundo de nossas almas. 

Aquilo tudo que jogou num lodo escuro e denso, aquilo tudo que fere calado, que ficou no passado, e que hoje soma a sua personalidade certo traço, ora bom, ora ruim. Ruim pra você mesmo, ruim pra nós mesmo, nossas provas, nossas aflições. Nosso maior presente. 

Que não soe masoquismo, muito menos um breve lapso de martirismo barato, mas sim tudo aquilo que nos mata, nos machuca e que por fim trás o tão temido sofrimento, é o nosso maior presente, aquilo que Deus nos guardou como o melhor remédio, o xarope amargo e eficiente para a cura. 

Somente através do instrumento da dor que abriremos os olhos do espirito, as janelas da alma, somente no escorrer das lagrimas purificaremos nosso ser, limparemos nossa alma. Não há passes nem livros, muito menos doutrina e religião nenhuma que o cure, se não o sofrimento. É na escola da dor que aprendemos a lição exata daquele momento, mesmo que muitas vezes cego estaremos, que nada enxerguemos e a única alça que iremos ver no sofrimento é a revolta, apenas respire e traga para dentro de si, toda aquela dor, sugue aquilo como o último gole de vida que tens, mastigue e se alimente daquilo vagarosamente, para que consiga digerir tudo, peça a luz e o esclarecimento caso não consiga entender ou aprender com aquilo que sofre.  Cedo ou tarde irá realmente se curar, sentir o efeito do remédio mais santo do mundo. Entenderá o perdão, a compaixão, entenderá o outro e assim o amará, como amará a ti mesmo. 

No caminho da resignação não há treva que perdure, aceite e confie, respira e entenda, olhe sempre para a causa ao invés de enfatizar a consequência, humildemente irá ver que a causa primária de tudo o que passou sempre esteve em você e assim poderá tirar a culpa do mundo e de Deus. 

Essa é a dura e árdua tarefa da Reforma íntima.

Que Oxóssi e Iansã abençoe a todos.


11 de dez. de 2013

Crônicas de Iemanjá. Parte 1: Os convites e os Sonhos Desfeitos

Congá da festa de Iemanjá do Portal dos Orixás em Itanhaém
Esse foi o congá mais bonito que já fizemos
Olá irmãos, como vão todos? Quem acompanha o blog Ser Umbandista e também a nossa página no Facebook conhece muito do nosso dia-a-dia e sabe que eu dirijo um centro de Umbanda chamado Portal dos Orixás. Sabe também que no dia 7/12/2013 foi a nossa festa de Iemanjá, em Itanhaém-SP. A festa foi tão boa, mas tão boa que eu a considerei a mais linda e gostosa já feita pelo terreiro a que pertenço, por isso resolvi fazer algumas crônicas para que você, leitor que infelizmente não pode comparecer, possa compartilhar da emoção que vivemos ali naquela praia.

Parte 1: Os convites, os convidados e os sonhos desfeitos.


No começo de Janeiro eu já sei quando será a festa de Iemanjá, a única do ano feita fora de nosso templo. Sei porque sou eu quem faço o calendário anual, sei porque tradicionalmente ela é realizada no fim de semana mais próximo ao dia 8 de Dezembro, dia em que nós umbandistas celebramos a Rainha do Mar.


Sou um homem extremamente planejador, é uma característica que não consigo abandonar. Se tenho algo importante para fazer, vou planejando isso com cuidado, idealizando tudo no decorrer do tempo até chegar a tal data. Contudo, idealizar nos afasta da realidade e seus percalços e, com isso, vem a decepção. Sempre é assim, imagine com uma festa tão importante para o templo e para a própria Umbanda?

Cada gira é um ensaio, uma oportunidade de deixar os membros da irmandade preparados para enfrentar uma noite inteira de vibração, incorporação, passes e cânticos, tudo isso com os pés na areia sentindo diretamente as forças do mar que está ali há poucos metros de distância. Pode parecer que não, mas o sacrifício é enorme.

Eu idealizo o trabalho como um momento de celebração entre pessoas queridas do terreiro, com todos os filhos reunidos, amigos e irmãos de fé. Todos juntos, colaborando com seu tempo e força de vontade para que a gira seja perfeita. Por isso é que na medida em que a festa se aproxima, eu banco o chato e saio convidando um por um. todas aquelas pessoas que vem a mim ou ao centro em busca de conselhos e ajuda, filhos que saíram da casa por vários motivos distintos e que sempre dizem morrer de saudade, amigos que simpatizem com nossa filosofia etc. Todos respondem animados que adorariam ir.

Quando falta um pouco menos de tempo, aqueles que deram certeza, já respondem algo do tipo "Estou louco para ir, mal vejo a hora! Só preciso acertar mais algumas coisas aqui..."

Há alguns dias da festa há um misto de misterioso silêncio com respostas assim "Opa! Só me fala como chego lá. Não sei que horas vou, mas eu te ligo quando estiver no caminho".

No dia da festa 90% das pessoas  que você convidou, desmarcaram. Os outros 10% sequer dão satisfação e você alimenta - mesmo depois de dez anos vendo e revendo este filme - a esperança de ter a companhia dessas mesmas pessoas, que você convida ano após ano sem obter êxito algum, na celebração que seu terreiro arquitetou durante um ano. Eu mantenho o celular ligado durante todo o dia para o caso de alguém telefonar dizendo que se perdeu, acreditam?

Isso tudo vem da minha necessidade de compartilhar com as pessoas aquilo que me faz bem e acabo me esquecendo que nem todo mundo sonha como eu ou sente o que sinto quando estou diante dos atabaques. Para cada um a Umbanda tem um peso, uma importância e é nessa hora que podemos medi-la sem ruídos. A festa está aí, a oportunidade também, só não vai quem não quer ou não se importa.

É nessa hora que fico triste, que começo a pensar que ninguém vai, que a festa será uma porcaria história, a pior de todos os tempos. Me precipito no caos e na desilusão, no medo da rejeição e do que o exército de dedos julgadores irá falar  de mim, das minhas ideias e filhos. Mas Iemanjá é soberana e sempre dá um jeito de me surpreender e me fazer entender coisas novas sobre a via.

Mas isso fica para a próxima história. Axé!

2 de dez. de 2013

Na Umbanda, Menos é Mais


Olá irmãos de fé, como vão? Mais uma vez peço desculpas pela falta de textos nas últimas semanas. Este "silêncio" tem sido motivado por uma grande mudança no templo que dirijo, pois estamos nos mudando de Itanhaém, cidade em que atuamos há quase 10 anos, berço de nosso terreiro e sede de nossa irmandade desde 2007. Isso causa em mim um sentimento meio difícil de explicar, mas prometo escrever sobre este tema futuramente.

Contudo o tema deste texto nasceu justamente em uma conversa acerca desta mudança. Neste fim de semana a família estava reunida na casa de minha irmã e Mãe de Santo, todos - meu pai, minha mãe, minha irmã, meu irmão (que já frequentou nossa casa) e eu - conversando à mesa quando meu irmão dispara:

"Na verdade vocês só finalizaram algo que já estava morto há tempos, né! Só tem dois gatos pingados na assistência e 4, 5 médiuns..."

Ah meus irmãos, ele mexeu com o assunto errado na frente do cara errado. Naquela hora todos os presentes, exceto, claro, meu irmão, fizeram cara de "Ferrou, lá vem". Comecei a conversa dizendo que era para ele tentar se lembrar que aqueles gatos pingados que estavam na assistência da gira eram um casal de velhinhos que chegaram ao nosso terreiro sem a mínima esperança de encontrar uma solução para o problema de drogas que seu filho enfrentava há mais de 15 anos. Disse que, felizmente, aqueles 2 gatos pingados eram hoje 3 gatos, pois o filho já frequentava as nossas sessões e havia abandonado o vício. Depois daquele episódio houve mais um, com o neto que precisaria de uma cirurgia ainda na barriga da mãe em que ambos poderiam morrer, mas tudo deu milagrosamente certo.

Desdobrei o assunto para evitar ficar falando das graças alcançadas ou de pessoas específicas. Entramos no tema quantidade x qualidade e o lembrei que na época em que ele frequentava nossas giras a casa era cheia. Cheia de pessoas querendo mais dinheiro ou um emprego melhor, de filhos que só queriam saber de enfeitar os guias e nada de fazer a caridade. Se hoje estamos com um quadro infinitamente menor, temos o alento de ver trabalhos maiores sendo executados. Além, é claro, de tudo aquilo que acontece num plano em que nossa visão física não pode chegar, nos irmãos espirituais que rumam para nossa casa buscando ajuda, nos trabalhos desfeitos e também em toda energia positiva que geramos ali e que em seguida é encaminhada para pessoas necessitadas em toda parte.

Claro que é a maior alegria para um Pai de Santo ver sua casa cheia de filhos e de pessoas assistindo. Eu mesmo chorei feito criança na festa de Cosme e Damião deste ano ao ver tanta gente lá, mas quantidade nunca foi um indicador de sucesso para mim (e não deveria ser para casa alguma!).

Acho que meu irmão entendeu o que quis dizer e vai tentar ter um pouquinho mais de empatia nas próximas vezes.

E você, entendeu?

Axé!

6 de nov. de 2013

A história (engraçada) de como caí na gira depois de 10 anos


Olá irmãos de fé, como vão? Na semana passada, após muito tempo sem escrever aqui, achei que fiz um texto demasiadamente denso, árido, por isso hoje vou contar-lhes uma história de terreiro minha, talvez a mais engraçada de todas.

Considerem este como uma continuidade destes dois textos:

Recapitulando: eu conheci a Umbanda com 7 anos de idade, fiquei 10, 11 anos longe dela até me reaproximar de minha irmã e começar a ter contato com os Guias que ela recebia, me consultar, ficar curioso e cair na gira, ainda sem termos um terreiro.

É aqui que começamos de novo.

Éramos cinco - encarnados, sem contar os espíritos, claro. Minha irmã (também minha Mãe de Santo), seu marido na ocasião, a Daiane, o (Pai) Peninha e eu. Esses últimos três, inseparáveis e curiosíssimos sobre os propósitos da Umbanda, sua aplicação, história, limites, processos e rituais, tudo.

Mas antes disso quero que vocês entendam (e vislumbrem!) o cenário: não tínhamos um templo, não fazíamos rituais, sequer abríamos giras ou consultas. Éramos cinco. Seis na verdade, mas a irmã da Daiane acabou se mudando de cidade e pouco a vi nos últimos 10 anos. Como minha mãe (hoje minha filha de santo, assim como meu pai) não gostavam nada dessas "macumbarias", a gente se reunia onde e quando dava, quase sempre - vejam vocês - em um quartinho em forma de L adjunto à casa de meus pais. Minha irmã incorporava quase sempre o Capitão Alemão (marinheiro e entidade mais icônica de nossa casa desde sempre), vez ou outra suas Pombagira ou Sr. Severino boiadeiro e ficávamos conversando sem notar que o tempo passava.

Àquela altura eu já sabia que era protegido do Dr. Zé Pelintra (contarei isso no próximo texto desta série) e, cheio de coragem, decidi que iria me desenvolver. Lembrem-se de que estávamos em um quartinho, não estávamos de branco e nem nada. Naquela noite eu estava com uma bermuda de tactel azul e larga na cintura (era do meu irmão mais velho) que vivia sendo puxada para cima por mim afim de evitar o pior. Mesmo assim fui.

Eis que naquela hora minha irmã recebe o Zé Pelintra (um dos, são muitos e tal, todo mundo sabe, ela trabalha com o Seu Zé em raras ocasiões) que me coloca para girar com o Zé que trabalha comigo até hoje. Caí na gira novamente, era a mesma sensação de torpor de quando eu era criança, a mesma paz e energia, eu debutando na Umbanda e assumindo o compromisso que sustento até hoje, definindo o meu destino na irradiação de Sr. Zé Pelintra. Eu saí de mim, levitei espiritualmente e sequer me sentia girando. Foi lindo.

Lindo até eu abrir meus olhos, pois quando isso aconteceu vi a Daiane o o Peninha segurando o riso (em respeito aos guias, não à mim). Foi aí que olhei para baixo. Lembram daquela bermuda que citei? Ela estava no chão, cobrindo meus tornozelos, somente eles. Que vergonha.

Que bela maneira de incorporar um respeitoso guia de luz, não? Vai ver é por isso que não tenho vergonha nenhuma de de dizer  a todos qual a minha fé, de andar de branco por aí, de cantar ponto de Umbanda na rua, de ir pro emprego com uma camiseta com Orixá estampado. Eu já girei de cuecas, do que mais terei receio?

Alguém tem alguma história engraçada em relação à umbanda? Compartilhe com a gente!

Axé!

29 de out. de 2013

Umbanda: o legado moral dos negros e índios no Brasil


Olá irmãos umbandistas, como vão? Primeiramente eu gostaria de pedir desculpas pela falta de textos nestas últimas semanas, a questão é que eu escrevo aqui com base em inspirações diárias e para tanto eu preciso de um certo nível de quietude na alma e paz interior. algo que me escapuliu recentemente, mas acredito estar regressando.

Em uma de nossas últimas interações no Facebook, semanas atrás, eu pedi a opinião de vocês sobre o próximo texto e nosso irmão Leandro Panosso sugeriu que a conversa fosse sobre a herança cultural que nossos antepassados escravos e índios nos deixaram. Achei o tema formidável e fui pesquisar um pouco, mas a maioria dos achados já estavam presentes em minha memória e vida de forma muito cândida, muito apaziguada, como, por exemplo, a culinária, expressões linguísticas, costumes e superstições. O problema é que a gente acaba se esquecendo - ou sequer se preocupa em saber - de onde veio tudo isso e qual o custo dessa herança.

Parem para pensar um pouquinho. Se imaginem aí em suas casas, tranquilos numa bela tarde com a família quando, de repente, um bando de seres de cor estranha, língua desconhecida e roupas jamais vistas invadem sua vida, violentam suas mulheres, te prendem e te tiram o que mais lhe importa: sua liberdade, seu lar, sua pátria e família. Como você se sentiria ao perder tudo isso? E ao ver seus semelhantes morrerem nos fundos fétidos de um navio negreiro, hein? O que passaria em sua mente ao ter que jogar os corpos de sua família, morta há dias, no mar?

Revolta, não é?

Isso porque nem citei as humilhações passadas em terra firme, as barbáries que nossos ancestrais tiveram de enfrentar. Imagine este ciclo se repetindo durante séculos.

Mais revolta? Eu sei.

E depois da Lei Áurea veio a liberdade, mas a segregação continuou e perdura até hoje. Todos sabemos disso. e com os índios foi a mesma história também.

A Umbanda nasceu negra e índia. Mas como uma religião tão linda e pacífica como a nossa poderia nascer a partir de povos tão sofredores e que, segundo a nossa lógica humana, se tornaram tão revoltados?

A Umbanda, neste contexto, é a melhor resposta à minha pesquisa e à indagação do nosso leitor: o maior patrimônio que os negros nos deixaram não foi a culinária ou quaisquer outros costumes, foram seus ensinamentos, seu legado moral. O ensinamento de que por mais que sejamos castigados, humilhados ou dizimados, devemos nos erguer e continuar nossa luta pelo bem maio da vida terrena e eterna. Aprender não somente com nossos erros, mas também a não repetir as falhas alheias, pois não é porque fomos açoitados um dia que iremos açoitar o próximo.

O legado moral é e sempre será o nosso maior presente às gerações futuras, portanto questionem-se sempre por quais atos vocês querem ser lembrados e quais atitudes suas vocês desejariam ver seus filhos replicando.

Foi para isso que a Umbanda surgiu, para que os negros e índios nos mostrassem qual postura tomar diante de quem os açoitou: o perdão.

Então pratiquem sempre o bem e sejam felizes com a felicidade do próximo.

P.S.: vejam essas fotos do final da escravatura no Brasil http://bit.ly/1aEMXto 

2 de out. de 2013

Por que a cabeça do umbandista é sagrada?

"Cada cabeça com a sua sentença", o Ori é sagrado!

Olá irmãos umbandistas, como vão?

Em nosso último texto, citei os principais erros que levam o namoro entre irmãos de santo à ruína. Dentre os tópicos, mencionei o colocar a mão na coroa do médium e um irmão nos pediu nos comentários para que falássemos mais sobre isso fora do contexto amoroso. Então mãos à obra!

Por que a cabeça é tão sensível e importante para o umbandista?

A cabeça é sagrada não só para o umbandista, mas sim para a maioria das crenças que conheço. Alguns exemplos: 

  • O sétimo e principal Xakra, o Sahasrara é situado no topo centralizado de nossas cabeças. Segundo a tradição indiana, é através dele que recebemos a iluminação divina, o Sahasrara é também responsável por regular toda a nossa energia. Seu mantra é o Aum que nos remete ao sânscrito Aum-Bandhã que é relacionado às origens da umbanda. Clique aqui e saiba mais;
  • Judeus e muçulmanos cobrem suas cabeças em sinal de respeito;
  • O mesmo vale para os católicos, de forma mais aguda os Franciscanos que raspam o topo de suas cabeças.
  • No Candomblé a cabeça dos filhos de santo recebem sempre atenção especial em todos os rituais;
  • A cabeça é símbolo de conhecimento, de comando, de aprendizado e elevação do pensamento, de aproximação com a  Inteligência Suprema, em outras palavras, Deus.
Voltando à Umbanda, Orixá significa Energia de Cabeça (falei mais sobre isso aqui), mais um ponto que confirma o sacramento da coroa (cabeça, ori) do filho de santo. Como a umbanda tem essa característica de contemplar qualidades de várias religiões, todos os argumentos acima são válidos também para a nossa liturgia.

Por que não devemos deixar as pessoas tocarem nossa cabeça?

Por representar o ponto de contato entre a gente e o astral, o ori deve ser preservado, evitando-se que quaisquer pessoas não autorizadas o toquem. quando digo quaisquer pessoas, eu falo sobre todas elas, independentemente de sua religião ou intenção.

Da mesma maneira que recebemos energias por nossa coroa, emanamos por nossas mãos ou objetos que empunhamos, além do fato de sermos um subproduto de nossas intenções, ou seja, emanamos energias íntimas, produzidas de acordo com nosso estado de espírito, por esse motivo se alguém ficar muito tempo tocando nossas cabeças há o grande risco do choque de energias, o que nos desestabiliza emocional,espiritual e até fisicamente.

É por isso que eu, enquanto Pai de Santo, evito ao máximo o gesto de erguer a mão sobre o ori de um filho, porque durante a gira estamos de coroa aberta para receber as vibrações dos orixás e é só da energia deles que o médium precisa, não a de outro encarnado.

Há momentos em que a intervenção do dirigente se faz necessário, pois o médium pode estar sofrendo de algum bloqueio, contudo julgo mais saudável que ele aprenda a vencer essas dificuldades sob uma supervisão mais distanciada. Médiuns mais maduros nascem assim.

Gostaram do texto? Concordam? Discordam? Deixem suas opiniões nos comentários!

Axé.

17 de set. de 2013

Namoro na Umbanda. Parte 2: os principais erros.

Quando o estresse do amor vai parar dentro do terreiro.

Olá irmãos umbandistas, como vão? Há algumas semanas falamos aqui sobre a proibição ou não dos namoros entre membros de uma mesma corrente mediúnica. Se ainda não leu, clique aqui, se inteire do assunto e retorne ao presente texto.

Vale ressaltar que eu sou a favor da liberdade de escolha amorosa dos filhos e dirigentes do templo, em meu terreiro há diversos casais e eu só estou escrevendo esta série de textos porque já namorei com pessoas do mesmo terreiro que o meu (estando eu como filho e, posteriormente, como pai). E por ter dado inúmeras cabeçadas nessa vida, falarei hoje sobre os principais erros que um casal pode cometer em sua vida de terreiro.

1. Colocar a mão na coroa. Isso é uma ordem do astral que aprendi a respeitar. Para começar, eu detesto ficar colocando a mão na cabeça de quem quer que seja, salvo os raros casos em que a pessoa está iniciando seu desenvolvimento ou que esteja com muita dificuldade na incorporação. E isso se agrava quando há um envolvimento amoroso entre as partes, porque, para balizar o desenvolvimento de uma pessoa, é necessária total imparcialidade, coisa que um casal definitivamente não tem. Sério gente, isso não faz bem.

2. Namorar DENTRO da gira. Sim, há pessoas que não conseguem deixar o namoro do lado de fora da gira. Ficam controlando os passos um do outro durante os trabalhos espirituais, deixando assim de se concentrar no axé da corrente. Ou pior: aproveitam cada intervalo para já ficarem agarrados, trocando beijos diante dos irmãos e visitantes. Já vi casos de um sentar no colo do outro e assim realmente não dá.

3. Confundir o Guia com a pessoa. Acontece muito disso e eu mesmo já fui vítima desse tipo de equívoco. A pessoa simplesmente se esquece de que nós doamos a nossa matéria para uma entidade espiritual, olhando apenas a figura e não quem a manipula. Aí se a entidade manifesta algum tipo de carinho por outro irmão ou visitante, a pessoa cujo namorado(a) está no processo de transe encara a cena com ciúmes, gerando assim uma carga excessiva e desnecessária de energias negativas que certamente causarão problemas a alguém mais tarde.

4. Transformar as entidades em conselheiros amorosos. Tem briga de casal em casa, eles não se resolvem e também não tem maturidade suficiente para deixar as rusgas do lado de fora do terreiro, o que acontece? Vão fazer de penico os imaculados ouvidos dos caboclos, pretos-velhos, marinheiros etc. que, pacientemente, se deixam alugar por um tempo infinito com a intenção de desfazer o clima pesado que o casal gerou no terreiro. E com isso as pessoas com necessidades legítimas ficam na fila...

5. Ficar se consultando com os Guias do parceiro(a). É uma dica que se aplica de forma semelhante ao erro número 1. Isso porque é necessária muita, muita concentração e tranquilidade para que a sintonia entre o médium e o espírito não seja quebrada, certo? Levemos em conta agora que a maioria dos médiuns são conscientes ou semi-conscientes. Agora imagine como fica a cabeça de um médium quando vê o companheiro(a) diante de "seu guia" para uma consulta. A luz vermelha do conflito de interesses acende na hora! A sintonia sofre grave abalo.

Querem complicar mais? Combine o item 4 e o item 5: um casal que brigou em casa, chega no terreiro e um vai reclamar para a entidade do outro sobre seus respectivos parceiros. Me digam, é seguro? Claro que não.

Repito: já vi muito disso nos terreiro e já cometi vários desses erros, sei muito bem do que estou falando. Portanto, sintam-se a vontade para se apaixonar por seus irmãos de santo e viver felizes com eles, mas deixem o relacionamento do lado de fora da gira e tentem não cometer esses erros que falei agora e muitos outros que a inexperiência pode nos levar a fazer.

Muito, muito axé para todos vocês! 

9 de set. de 2013

Meu reencontro com a Umbanda: o nascimento do Portal dos Orixás.

Esta imagem é raríssima: um dos primeiros congás do Portal dos Orixás, nossa casa nasceu num quartinho simples como a Umbanda deve ser.

Olá irmãos, como vão todos? Vocês se lembram de quando lhes contei da descoberta de minha mediunidade? Pois bem, hoje apresentarei mai um capítulo de minha história: o meu reencontro com a Umbanda.

Como sabem, eu conheci a umbanda com mais ou menos 7 para 8 anos, caí na gira pelas mãos do baiano Jeremias, o barra-vento me derrubou etc. Fato é que àquela época, minha irmã (que hoje é minha Mãe de Santo) estava grávida e posteriormente saiu daquele terreiro, para a alegria de minha mãe que odiava terreiro, tambor, espiritismo e tudo mais. E a vida seguiu o seu curso por uns 10 anos...

Eu morava em Itanhém, litoral Sul de São Paulo, namorava, vivia em uma chácara (ondoe hoje funciona o terreiro que dirijo) com meus pais e irmão, tudo tranquilo até que minha irmã, Raquel, veio passar uns meses conosco e começou a entrar em temas de espiritismo e me contava o que "As Vozes" diziam em seu ouvido o tempo todo.

Sou curioso doentio, confesso. Me apresente algo novo e eu vou colar em você até aprender tudo o que sabe, depois disso continuarei buscando por outras fontes de informação. No meu caso, minha irmã me apresentou a Umbanda, suas diretrizes e características, a prioridade pela caridade, o amor e a humildade, os Orixás e os demais guias protetores. Ficávamos horas e horas conversando sobre isso, noites adentro, eu perguntava, os guias respondiam e ela repassava as respostas. Bom tempo aquele.

Outra característica minha é a de não conseguir reter boas notícias, eu compartilho mesmo tudo aquilo que me faz bem, principalmente aquela redescoberta tão interessante. Foi questão de tempo até que aquelas conversas entre mim e minha irmã se tornassem reuniões entre ela, meu cunhado, o Peninha e a Daiane (dois dos melhores médiuns que já vi) e eu. Nascia ali, meus irmãos, o Portal dos Orixás, da união daquelas poucas pessoas curiosas ao redor de uma médium experiente, da fé de cada um e do grupo, do desejo de saber mais e de aplicar o conhecimento e da oportunidade de beber da fonte, ou seja, de ter suas perguntas respondidas diretamente dos Orixás.

Olhando para trás, o que pude aprender é que não dá para iniciar nada (muito menos um terreiro) sozinho ou sem união das pessoas em torno de um propósito. A gente respirava Umbanda naquela época, toda hora era hora de aprender e se desenvolver. Realmente eram áureos tempos que eu reviveria milhares de vezes se eu pudesse. Portanto, irmãos, aproveitem cada oportunidade que vocês tem de beber da fonte de sabedoria, de se entregar à gira e às vibrações do templo. Nunca se sabe os frutos que podemos colher disso.

Num próximo texto vou lhes contar como foi meu retorno (cômico, por sinal) aos desenvolvimentos.

Axé!

4 de set. de 2013

Qual a diferença entre Umbanda e Candomblé ?


Boa tarde caros leitores, amigos e irmãos de fé, por tempo não escrevo no blog, mas acreditem, se existe uma sina em minha vida essa sina é o irmão Claudio e agora por mais uma vez trabalharemos juntos, então talvez eu consiga cumprir a promessa de ser mais assíduo em meus textos. (Filhos de Oxóssi são caras de pau mesmo).

Em algumas conversas com ele, ou mesmo observando nossa página no Face, sempre surgem dúvidas quanto a Umbanda e o Candomblé, fundamentos de um e fundamentos de outro, e sempre a dúvida fica pairada no ar.

Afinal, qual a diferença entre Umbanda e Candomblé ?

Resposta: Tudo !

Melhor começarmos a discutir isso com outra pergunta, o que a Umbanda e o Candomblé tem em comum ?

Resposta: A mediunidade e o atabaque.

Sim, só isso.

Mas e os Orixás, há quem tanto louvamos e cantamos na gira de Umbanda.

Muitos irão discordar/ questionar quanto a resposta, mas em sua essência são coisas diferentes.

Na Umbanda se louva o Orixá, se canta, se reza e vibramos por eles. (Lembrando que a Umbanda definitivamente fundada pelo seu Zélio Fernandino, não tinha em sua essência o culto aos Orixás, e sim espíritos de desencarnados, como Caboclos e Pretos Velhos, a referencia ao Orixá na Umbanda não se sabe ao certo, mas a tese mais aceita de forma empírica é que os Pretos Velhos em sua vida carnal, o cultuavam de acordo com suas nações, e em sua jornada espiritual na seiva umbandista trouxeram esses ensinamentos e praticas de louvor. Mas lembrem-se que são coisas distintas, praticadas e consolidadas em períodos completamente distantes e diferentes na linha do tempo da história do Brasil.)

A Umbanda em si é constituída pela máxima da caridade através da mediunidade humana, onde os mentores por consultas, fazem a pratica dessa junto com seu médium e em meios aos trabalhos cantam e louvam os Orixás.

Ahhh Mentira ! E então o Ogum que eu recebo na Umbanda, não é um Orixá ?

Resposta: (Isso pode gerar bastante discordância entre os leitores) Mas não é um Orixá, é um espirito, um falangeiro que vem na "linha", vibração, daquele Orixá.

Por exemplo: Ogum Beira-Mar, não existe nas nações de Candomblé o Orixá Ogum cujo a qualidade seja Beira-Mar, esse é um termo brasileiro e da língua portuguesa.

Mas então quem são essas entidades e o que fazem ?

Assim como o Orixá Ogum atua nos caminhos, na guerra e na conquista, estes falangeiros também assim o fazem, a diferença é que eles são espíritos, e não essências puras como o Orixá que nasce do Ori de cada ser.

O mesmo acontece com os Caboclos de Xangô, as encantas de Iemanjá e Oxum etc..

No Candomblé a trilha é bem diferente, como diz meu zelador, Umbanda e Candomblé é como água e óleo, pode até parecer que num primeiro momento as substancias se misturam, mas depois a água decanta do óleo e elas se separam, não há como misturar. Umbanda é Umbanda e Candomblé é Candomblé. (Deixo aqui minha forte crítica para as casas que tocam o triste "umbandomblé")

Nos cultos de nação o Orixá é cultuado, mas qual a diferença disso ?

As reuniões de um Ilê não são pautadas por consultas, passes ou irradiações e sim se configura na incorporação do Orixá, nas danças, nos seus fundamentos e obrigações.

O Orixá no Candomblé é uma essência pura, um fragmento da natureza e até mesmo de Deus, assim como Iemanjá nas águas, Oxóssi e Ossain nas matas, Oxum nas cachoeiras.

Esse energia, pode ser considerada como uma centelha divina da própria natureza, que por sua vez tem a consciência e sua forma sublime e bruta ao mesmo tempo. Não se incorpora um Orixá a torto e a direito, não se da passagem a um Orixá como se da a um Caboclo, ele não sai com pés de dança pelo salão sem passar por processos e ritos, não se faz um Orixá num filho de santo sem ser pelas mãos de uma pessoa com no minimo 7 anos de iniciação.

Poderia ficar horas e horas, escrever linhas e linhas, para tentar separar essas duas religiões, mas para lição de casa e melhor entendimento, vale estudar um pouco sobre a origem de cada uma das religiões, para entender em si qual a diferença.

Deixo aqui um abraço cheio de paz para todos os nossos leitores, umbandistas e candomblecistas, Deus será sempre o mesmo e único.

Axé pra quem é de axé, saravá pra quem é de sarava e shallon pra quem é de shallon.




28 de ago. de 2013

Como definir a Umbanda?

O que torna a Umbanda única e especial?
Já disse várias vezes aqui que a Umbanda é bela por ser mutável, por cada terreiro ser único e incomparável, mas mesmo assim ser facilmente reconhecido como umbandista. Mas como tudo na vida tem seu lado negativo, comecei a refletir sobre os contras dessa liberdade conceitual que só a Umbanda tem e cheguei à conclusão de que isso abre campo para que qualquer um faça qualquer tipo de culto e diga em alto em bom som que aquilo é Umbanda.

Recentemente um amigo me contou que ia em um terreiro de Umbanda e que o Pai de Santo cobrou por uns trabalhos e como o rapaz não tinha como pagar, foi amaldiçoado pelo sacerdote: "Se não pagar o que me deve, vai perder tudo o que tem. Tudo mesmo!". Fiquei estarrecido e perguntei sobre o que era feito na tal casa e descobri que havia matança de animais, trabalhos feitos para o mal e por aí vai. Eu disse que aquilo definitivamente não era Umbanda. "Ele dizia claramente que era Umbanda sim, juro!", respondeu meu amigo. De fato esse é o grande ônus de não termos um Líder unificador ou um livro de códigos como a Bíblia. Não que eu seja a favor disso, porque definitivamente não sou, gosto da Umbanda livre como sempre foi, mas qualquer um pode se dizer zelador espiritual de Umbanda, infelizmente.

Perguntei em nossa página no Facebook:

O que define a Umbanda? O que a torna única?

Algumas respostas:

"A Umbanda é uma religião inserida na religiosidade cultural brasileira. É estruturada, moralmente, em 3 princípios: fraternidade, caridade e respeito ao próximo." 
- Wildner Soares.

"Caridade Pura e amor!" - Elida P. Wiazowski

Eu juro que esperava respostas que falassem em Orixás, sincretismo religioso, atabaque, Zélio Fernandino e por aí vai, mas descobri que a Umbanda não não é definida por métodos ou culto, ela é rotulada por seus propósitos: caridade, amor e humildade.

Sei que muitos lerão isso e dirão "Mas há muitas religiões que praticam essas 3 coisas e não são a Umbanda". E eu responderei que a Umbanda tem parte dessas religiões em si, porque ela é mutável, é agregadora por essência. A Umbanda traz para si as melhores práticas e condutas de todas as outras liturgias, é isso que a torna tão grande, difusa e encantadora.

Outras dúvidas surgirão, por isso quero que vocês as escrevam nos comentários para que eu fale mais sobre o tema e também sobre caridade, humildade e amor nos próximos textos.

Axé!

20 de ago. de 2013

Namoro na Gira parte 1: é proibido?

Irmãos de santo podem dar certo como casal?
Olá irmãos umbandistas, tudo bem? Como está a trilhada de cada um?

Há algumas semanas eu perguntei em nosso Facebook e Twitter sobre namoro entre filhos de uma mesma casa, se era permitido, os prós e contras, as experiências de cada um etc. O texto que segue é feito primordialmente com base no que vivi e também com base nas respostas de nossos irmãos, portanto este artigo é quase puramente de opinião, ou seja, a minha visão sobre o tema. Todos vocês são livres para discordar, o que é muito bom também!

A Umbanda é livre e pautada pelo bom senso, ou seja, cada um pode adotar a conduta que quiser e com certeza vai arcar com o peso de suas decisões. Isso vale para todos os níveis hierárquicos do templo, desde o institucional (as regras da casa em si) até o individual (indicações de comportamento ou o comportamento em si pautadas pelos dirigentes e demais membros). Com base nisso, podemos ver que não adianta ficar proibindo nada, sendo que se a pessoa quiser fazer, ela fará. Já falamos sobre isso anteriormente, leia aqui.

Em relação aos relacionamentos amorosos (paqueras, namoros, casamentos etc.) entre os filhos do mesmo terreiro, cada casa tem a sua postura, há aquelas que proíbem e as que simplesmente estão nem aí, deixando a cargo da consciência de cada um.

Eu, Pai Cláudio, conheço inúmeras casas e a maioria delas permite que seu filhos namorem, mas com ressalvas. O namoro é entre os indivíduos, os cidadãos, os filhos de santo são irmãos em espírito, devem permanecer alheios aos sentimentos conjugais como a posse, ciúmes, controle, reporte dos passos, restrições de convívio, zelo excessivo e afins. Dentro da corrente a pessoa tem que se doar de forma integral e irrestrita à causa umbandista. Nada além. Foco total na gira.

Concordo com essa prática que é perfeita, ao meu ver, em teoria e por isso exige controle rígido dos dirigentes, carnais e espirituais, para que o casal não desvirtue a liberdade que lhes foi concedida e acabe fazendo do terreiro a extensão de suas casas, importando brigas, desconfianças e demais problemas que nada mais farão além de tirar a mente do umbandista daquilo que realmente interessa: a gira.

É por isso que há casas de Umbanda que proíbem todo e qualquer tipo de envolvimento amoroso entre seus filhos, afinal se a pessoa não te bom senso para separar os ambientes espiritual e social, não merece ter esta liberdade e a chance de estragar uma amizade ou o bom convívio no terreiro. Geralmente as casas que adotam este tipo de proibição já sofreram muito com os malefícios de ter de intervir em brigas de casais. E isso se torna mais agudo quando os Guias tem de intervir. Mas isso é assunto para o próximo texto...

Em suma, ninguém namora um irmão de santo, namora um cidadão, alguém fora da gira, pois dentro do terreiro somos todos livres dessas exigências maritais, tendo apenas a necessidade de foco nos trabalhos espirituais e em tudo o que eles representam. Não confundam as coisas jamais!

Axé.

13 de ago. de 2013

Dívidas na Encruza. Parte 2: as consequências

Colhemos o que plantamos, então tome cuidado com o que vai pedir.
Olá irmãos umbandistas, como vão vocês? Já falamos anteriormente sobre as dívidas na encruza e como não se portar, hoje seguiremos neste tema abordando as consequências dos maus pedidos que fazemos ao Povo de Ganga (da cancela, encruza,cemitério,figueira, calunga etc.).

Melhor do que ficar numa longa dissertação, vou contar-lhes uma história, mas antes vamos alinhar alguns conceitos:

  • Ação e reação: é a lei da vida, você colhe o que planta. Só se arrepender não reparará as coisas.
  • A caridade e a assistência espiritual são limitadas por quem as recebe: você ajuda até o ponto em que a pessoa poderá se gerir por si, é a velha história de "ensinar a pescar em vez de dar o peixe".

O Devedor ganancioso

Certa vez uma velha amiga me pediu ajuda espiritual, pois seu genro estava em sérios apuros com a baixa espiritualidade. Disse-me ela que o rapaz queria ser rico a qualquer custo e percorreu tudo que é templo religioso por aí (igrejas, centros espíritas, magos etc.) atrás de uma solução mágica que o tornasse próspero. A cada fracasso acumulado, o rapaz recorria a forças mais baixas da espiritualidade até que chegou num "terreiro" que solucionaria seu problema por um preço dito razoável. 

Sem titubear o rapaz aceitou. Iniciou-se ali o banho de sangue, pólvora e cachaça. Segundo ele mesmo me contou, as entidades olhavam em seus olhos e diziam que não adiantaria pedir nada a Deus, porque quem mandava no mundo era do Diabo e perguntavam se ele estava mesmo disposto a fazer o necessário para conquistar o que queria, se concedia a eles o direito de agir em seus caminhos. Sim era a resposta universal naquelas conversas.

Mas como nem tudo são flores, o rapaz não teve o dinheiro para pagar o serviço feito, o "Pai de Santo" cancelou a "caridade" e os tais espíritos vieram cobrar o que lhes pertencia, ou seja, a alma do sujeito. Os sonhos e visões eram pouca coisa perto das aparições. Uma vez um mendigo apareceu do nada ao lado de seu carro pedindo cigarros e quando os conseguiu, depois de muita insistência, agradeceu com um "Laroiê pra você também". A gota d'água foi quando essa minha amiga viu o mesmo mendigo deitado sobre o corpo do rapaz, que dormia. um presságio de morte.

Aí a moça me liga, reúno os médiuns, vamos para o terreiro e abrimos uma gira de descarrego só para isso. Todos os guias que baixaram no terreiro, sem exceção, o questionavam se ele queria mesmo aquele trabalho, se ele se arrependia do que pediu e se teria foco em sua família em vez do dinheiro. Sim, mais uma vez, foi a resposta universal. Me recordo que uma Pombogira lhe disse "Você fez tanta cagada que para a gente pensar em correr sua gira e desfazer o que foi feito, você terá de arrear aqui neste chão 7 oferendas pra Exú e 7 para Pombogira. Uma por mês durante 7 meses". Sim, mais uma vez.

Amigos, isso já faz um bom tempo. O rapaz nunca mais apareceu lá, nem para dizer "Obrigado pela ajuda, mas não creio mais que ela seja necessária".

O que acham disso?

Simpatia ou Oferenda, o que é melhor?

Uma simpatia ou oferenda é melhor do que apenas orar?

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Olá irmãos umbandistas, como vão todos?

O texto de hoje foi feito a partir do pedido de nossa irmã Fernanda Rodrigues lá em nossa página do Facebook. ela solicitou um artigo sobre orações e simpatias. E a grande pergunta é:

O que é mais eficaz, a oração, a simpatia ou uma oferenda?

E a resposta é...

Isso depende de você.

Sim, de você. Tudo começa de dentro para fora, a partir de nossa intenção e de nossa habilidade de acreditar no imaterial. significa "Acreditar no que não se pode ver", então ela é a base de tudo na espiritualidade e em seus cultos, independentemente de a liturgia pregar apenas a oração, simpatias e oferendas ou um conjunto dessas coisas. E eficácia da oração ou da simpatia vai depender do que você tem por dentro, se você acredita ou não que o resultado virá. Caso contrário, irá calejar os joelhos e gastar uma fortuna com objetos para simpatias ou oferendas para tudo que é santo.

Todavia o mais importante é saber que a espiritualidade NUNCA trabalha sozinha, ou seja, somos sempre os responsáveis pelas transformações que solicitamos e devemos agir para conquistá-las. Não basta apenas pedir, orar ou oferendar algo, temos que agir. Os orixás atuam em nossas vidas, mas eles não a vivem em nosso lugar. Cabe a eles nos guias e abrir os caminhos, mas quem os trilhará somos nós, sempre arcando com as consequências de nossos atos. É a Lei do Retorno sempre presente, por isso vigiem sempre seus atos e pensamentos, se policiem para não orar ou fazer simpatias pautadas por causas pouco nobres.

Lembrem-se sempre: melhor do que pedir é fazer.

Axé a todos!

30 de jul. de 2013

Aconteceu comigo: quando eu descobri a minha mediunidade

Cada minuto que passo no terreiro eu devo ao que vivi aos 7 anos de idade.
Olá irmãos de fé umbandista, como estão todos? 


Foi há 20 anos. Eu ainda um menininho de 7 anos de idade fui incumbido por minha mãe (que detestava Umbanda, Candomblé e afins, ou seja, a "Macumba") de vigiar a minha irmã mais velha que insistia em frequentar as giras num terreiro perto de casa. Na verdade a minha mãe foi vencida pelo cansaço, já que as surras que ela dava em minha irmã não surtiam mais efeito assim como o ato de queimar suas roupas de santo, então ela resolveu consentir que minha irmã tivesse sua própria religião desde que me levasse a tiracolo. Claro que eu fui instruído a contar cada detalhe da gira para minha mãe...

Eu fui, mas, como disse antes, eu era uma criança de 7 anos de idade e não estava nem aí para minha tarefa de vigia. Eu queria mesmo bagunçar e misteriosamente o som do atabaque - me lembro que, de modo geral, era um Ijexá bem acelerado - bem deixava elétrico e eu adorava tudo aquilo, os baianos, os boiadeiros, um sujeito de terno branco que vinha na Mãe Beth e a fazia sambar como se seus pés não tocassem o chão...

Menino arteiro que era (ainda sou), não demorou muito para um baiano de chapéu de couro me chamar para dar um passe e me deixar mais tranquilo. Seu nome era Jeremias, sujeito arretado e cantador, homem que falava direta e francamente com todos, inclusive com um certo menininho que beliscava a farofa e a carne seca do Congá nos intervalos da gira. Ele dizia "Tu vai ter que botar o branco" e eu balançava a cabeça respeitosamente, mas sem entender muita coisa. 

No fundo para mim aquilo era um grande teatro, um grupo de pessoas se divertindo num faz-de-conta semanal. E continuei achando aquilo quando, numa gira de baianos, Sr. Jeremias botou a mão em minha cabeça e me girou como um peão. "Salve a Bahia!" Eu ficava lá girando com os olhos semicerrados ao som do Ijexá e balançando os bracinhos. Propositalmente, eu pensava.

Isso aconteceu durante algumas semanas. A mesma fórmula: Jeremias, peão, Ijexá, bracinhos, tudo proposital. Então, não me lembro porquê, puxaram um ponto ao som de Barra-Vento. Ah meus irmãos! Meu coração disparou, não conseguia abrir meus olhos, eu sentia que girava feito um motor de liquidificador, mãos batiam em mim (provavelmente eram as pessoas fazendo um círculo ao meu redor), uma coisa louca! Quando abri meus olhos, lá estava ele de chapéu de couro, fio de conta composto de um coquinho, um olho de cabra e um chapeuzinho de couro. Sr. Jeremia me olhava sério e eu aprendi a minha lição: "A Umbanda é real, é verdadeira e tão tangível quanto a sua fé. Ou a sua descrença".

Nunca mais caí na gira e nem pisei num terreiro. Só 10 anos depois, mas isso fica para outro dia.

Axé!

23 de jul. de 2013

Mediunidade: como surge e o que fazer com ela?


Olá umbandistas, como vão? Quem de vocês leitores é médium? Como descobriram sua mediunidade e como fazem para desenvolvê-la?

Sim, hoje falaremos sobre a descoberta da mediunidade.

Para começar, lembremos que o médium nada mais é do que um meio de ação e comunicação entre o plano espiritual e o físico, somos portadores de dons e habilidades especiais que permitem esta interação entre os planos. Lembrem-se: somos portadores e não detentores, donos etc. O dom não nos pertence, não podemos negar a sua existência ou utilizá-lo para o nosso prazer ou enriquecimento.

Quando o dom surge?
É impossível prever. Embora seja mais comum o "despertar" ocorrer juntamente com o amadurecimento pessoal, ou seja, o início da fase adulta, há inúmeros casos de crianças médiuns por aí. Meninos e meninas fazendo feituras de santo, pregando nas igrejas, tendo clarividências e por aí vai. Isso se deve ao fato de que não devemos julgar a mediunidade pela idade física do sujeito e sim por seu amadurecimento espiritual, algo como a idade do espírito. Não há uma regra definida, um padrão temporal para essas coisas, como um plano de carreira.

E como fazemos para descobrir nossa mediunidade?
Outra coisa completamente sem lógica! Não há um processo ou método para descobrir, ao menos nada que seja 100% eficiente, não na Umbanda. No Candomblé há o jogo de búzios, mas na Umbanda a coisa simplesmente acontece. O mais usual é ouvirmos isso dos Guias durante a gira, eles falam isso indireta ou diretamente durante as consultas, despertando assim a nossa curiosidade sobre o assunto, sobre como desenvolver nossa mediunidade da melhor forma. As vezes - bem comum isso também - a mediunidade se manifesta na gira mesmo contra a nossa vontade. Um bom exemplo disso e eu tenho certeza de que já aconteceu com vários leitores desse blog é esse: você está no terreiro, o som do atabaque vai entrando em sua mente, o coração acelera, dá crise de choro, tremedeira nas pernas e, talvez, você não se lembra de mais nada. Isso é o que eu chamo de ultimato, quando a vida nos manda um recado do tipo "Está mais do que na hora de usar seu dom para ajudar as pessoas".

E o que fazer assim que descobrimos que somos médiuns?
  1. Estude: Leia as obras básicas do espiritismo, principalmente O Livro dos Médiuns, converse muito com as entidades no terreiro, seus pais de santo, irmãos de santo mais velhos, aprenda observando a vida.
  2. Seja ético: o dom que carregamos é para uso em prol do bem e das outras pessoas. Não o utilize para si ou para fins mesquinhos de terceiros, não cobre por isso. saiba impor limites.
  3. Seja humilde: ser um médium não nos torna mais fortes ou mais especiais que outras pessoas. Aos olhos de Deus somos todos iguais.
  4. Pratique a caridade: "Fora da caridade não há salvação", disse jesus.
Gostaram do texto? Deixe seus comentários e nos conte como descobriram sua mediunidade.

2 de jul. de 2013

A melhor herança que poderíamos receber de nossos ancestrais

Olá povo de Umbanda, como estão? Hoje falaremos sobre o grande legado de nossos ancestrais. sim, eu sei que a proposta deste blog é passar para os leitores uma visão vanguardista da Umbanda, contudo para seguir adiante de forma saudável, devemos respeitar o que de melhor o passado nos deixou.

Antes de iniciar nossa conversa, eu quero que vocês assistam este vídeo. Até o final e de coraçã aberto, por favor.



Assistiram? Eu gostaria que vocês deixassem nos comentários as suas impressões sobre o vídeo.

A primeira vez que ouvi este ponto eu estava no carro de nosso irmão Rafael Arruda, que também é autor aqui no Ser Umbandista, e me apaixonei logo de cara pela vibração, o toque simples e o amor que aquelas vozes transmitiam. Foi então que ele me contou que aquele áudio era de uma casa chamada Redandá. Um Candomblé de Angola (ou Candomblé de Caboclos) situado no interior de São Paulo há mais de 40 anos e que foi tema de um documentário. Claro que fui procurar no Youtube e encontrei aqui e aqui. Se eu já estava encantado em ouvir, ao ver me apaixonei.

Dá para ver nos olhos das pessoas seu amor pelos Orixás, sua simplicidade e doçura ao cantar, a entrega total às energias da corrente de orixás. E é exatamente ista a grande herança que nossos ancestrais africanos nos deixaram: o amor, a simplicidade e a dedicação à causa de nossa religião. Tá, somos de Umbanda e não de Candomblé, mas nossa fé é a mesma e nossa liturgia deriva em grande parte do Candomblé, principalmente da Angola.

"Tava dormindo e o tambor me chamou. Acorda brasil, o cativeiro acabou!"

Para você, umbandista que ainda chega no terreiro e fica esperando as coisas aconteceram, eu aconselho a seguir o que este ponto diz. Ouça o tambor vibrar e desperte, não faça de seu acanhamento (ou egoísmo, ignorância, medo etc.) um cativeiro sem fim. Cante, dance e se entregue à gira.

Vibre. É a melhor forma de demonstrar amor à Umbanda e respeito aos nossos ancestrais.


Axé!

18 de jun. de 2013

Dívidas na Encruza. Parte 1: como NÃO se portar.

Pense bem antes de pedir algo ao povo da encruza, Exú tem ótima memória.
Olá irmãos, tudo bem? Estão gostando de nossos textos? Mande seus comentários, dúvidas e sugestões aqui nos comentários ou em nossa página no Facebook!

Hoje iniciaremos uma série de artigos sobre o que pedimos e acabamos devendo na encruza, sobre aquilo que a gente pede e como se porta após isso. Sei que eu havia prometido este texto para semana passada, mas a vida dá umas voltas interessantes e tudo acontece na melhor hora. sábado passado realizamos, em meu terreiro, nossa festa de Xangô e depois viramos para a esquerda com Exús e Pombagiras, ou seja, o orixá da justiça seguidos dos trabalhadores dos planos astrais mais densos, aqueles que lidam com a ganância e egoísmo humanos. Achei mesmo que Xangô seria uma boa dica de como aproveitar a gira de Exú. só achei, inocentemente.

Mesmo antes de a gira começar eu disse:

"Na Umbanda trabalhamos com o merecimento, os orixás estão aqui para te ajudar a conquistar e não para dar algo de graça. Você sempre terá de trabalhar por aquilo que pretende ter".

Depois disso teve passe com Xangô, Senhor da Justiça e vocês pensam que funcionou? Frases que foram ditas entre os visitantes naquela noite (de forma sorrateira, mas lembrem-se que o Pai de Santo tem ouvidos nos quatro cantos do terreiro):

"Porra, não vão chamar logo as Pombagiras? Eu tenho mais o que fazer ainda hoje."

"Eu só vim para pedir minhas coisas pra esquerda e nem vou perder muito tempo aqui."

Legal isso, né? A gente se prepara, estuda, firma a casa e a corrente, se esforça o máximo possível para criar um ambiente seguro e de energias positivas, nos doamos por completo e tentamos passar boas mensagens para que as pessoas aprendam algo e voltem em paz para as suas casas. Mas em vez disso elas vão lá já com rosas e champanhe nas mãos como um prévio agradecimento (ou pagamento) pelos pedidos que eles esperam ter atendidos. Já dá para imaginar a natureza da maioria desses pedidos, não é? sexo, sexo, sexo, homem, dinheiro, sexo, grana, casa, carro, proteção contra os inimigos e sexo.

O meu conselho para encerrar essa primeira parte de texto sobre o que se pede ao povo da encruza: o ideal é que conquistemos tudo com o nosso próprio esforço. Exú é uma força muito poderosa e precisamos saber utilizá-la, pois seremos cobrados (nessa e em outras vidas) por nossos atos mesquinhos.

A Umbanda é uma dádiva, desde que saibamos desfrutar dela decentemente. Caso contrário, a saliva que escarramos para o alto voltará para as nossas cabeças.

Semana que vem tem mais. Axé!