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11 de dez. de 2013

Crônicas de Iemanjá. Parte 1: Os convites e os Sonhos Desfeitos

Congá da festa de Iemanjá do Portal dos Orixás em Itanhaém
Esse foi o congá mais bonito que já fizemos
Olá irmãos, como vão todos? Quem acompanha o blog Ser Umbandista e também a nossa página no Facebook conhece muito do nosso dia-a-dia e sabe que eu dirijo um centro de Umbanda chamado Portal dos Orixás. Sabe também que no dia 7/12/2013 foi a nossa festa de Iemanjá, em Itanhaém-SP. A festa foi tão boa, mas tão boa que eu a considerei a mais linda e gostosa já feita pelo terreiro a que pertenço, por isso resolvi fazer algumas crônicas para que você, leitor que infelizmente não pode comparecer, possa compartilhar da emoção que vivemos ali naquela praia.

Parte 1: Os convites, os convidados e os sonhos desfeitos.


No começo de Janeiro eu já sei quando será a festa de Iemanjá, a única do ano feita fora de nosso templo. Sei porque sou eu quem faço o calendário anual, sei porque tradicionalmente ela é realizada no fim de semana mais próximo ao dia 8 de Dezembro, dia em que nós umbandistas celebramos a Rainha do Mar.


Sou um homem extremamente planejador, é uma característica que não consigo abandonar. Se tenho algo importante para fazer, vou planejando isso com cuidado, idealizando tudo no decorrer do tempo até chegar a tal data. Contudo, idealizar nos afasta da realidade e seus percalços e, com isso, vem a decepção. Sempre é assim, imagine com uma festa tão importante para o templo e para a própria Umbanda?

Cada gira é um ensaio, uma oportunidade de deixar os membros da irmandade preparados para enfrentar uma noite inteira de vibração, incorporação, passes e cânticos, tudo isso com os pés na areia sentindo diretamente as forças do mar que está ali há poucos metros de distância. Pode parecer que não, mas o sacrifício é enorme.

Eu idealizo o trabalho como um momento de celebração entre pessoas queridas do terreiro, com todos os filhos reunidos, amigos e irmãos de fé. Todos juntos, colaborando com seu tempo e força de vontade para que a gira seja perfeita. Por isso é que na medida em que a festa se aproxima, eu banco o chato e saio convidando um por um. todas aquelas pessoas que vem a mim ou ao centro em busca de conselhos e ajuda, filhos que saíram da casa por vários motivos distintos e que sempre dizem morrer de saudade, amigos que simpatizem com nossa filosofia etc. Todos respondem animados que adorariam ir.

Quando falta um pouco menos de tempo, aqueles que deram certeza, já respondem algo do tipo "Estou louco para ir, mal vejo a hora! Só preciso acertar mais algumas coisas aqui..."

Há alguns dias da festa há um misto de misterioso silêncio com respostas assim "Opa! Só me fala como chego lá. Não sei que horas vou, mas eu te ligo quando estiver no caminho".

No dia da festa 90% das pessoas  que você convidou, desmarcaram. Os outros 10% sequer dão satisfação e você alimenta - mesmo depois de dez anos vendo e revendo este filme - a esperança de ter a companhia dessas mesmas pessoas, que você convida ano após ano sem obter êxito algum, na celebração que seu terreiro arquitetou durante um ano. Eu mantenho o celular ligado durante todo o dia para o caso de alguém telefonar dizendo que se perdeu, acreditam?

Isso tudo vem da minha necessidade de compartilhar com as pessoas aquilo que me faz bem e acabo me esquecendo que nem todo mundo sonha como eu ou sente o que sinto quando estou diante dos atabaques. Para cada um a Umbanda tem um peso, uma importância e é nessa hora que podemos medi-la sem ruídos. A festa está aí, a oportunidade também, só não vai quem não quer ou não se importa.

É nessa hora que fico triste, que começo a pensar que ninguém vai, que a festa será uma porcaria história, a pior de todos os tempos. Me precipito no caos e na desilusão, no medo da rejeição e do que o exército de dedos julgadores irá falar  de mim, das minhas ideias e filhos. Mas Iemanjá é soberana e sempre dá um jeito de me surpreender e me fazer entender coisas novas sobre a via.

Mas isso fica para a próxima história. Axé!

Um comentário:

  1. A decepção de algo que ainda não ocorreu é talvez maior do que a real. A frustração de algo não dar certo sem ao menos acontecer é isolador de sentimentos. Tudo isso você sentiu sem antes ocorrer, é a famosa ansiedade que nos atormenta.... Mas parece que fazem de proposito, para você ter a provação a todo momento e nunca pensar em desistir em momento algum. Sempre algo melhor virá, essa é a vida de quem tem Fé.

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