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17 de jun. de 2011

TROCANDO AS GUIAS



Amanhã celebraremos Xangô, o Orixá da justiça, do equilíbrio entre o que é devedor e o que é credor. Confesso que morro de medo dele e do que ele representa, porque não sou hipócrita ao ponto de dizer que mereço tudo o que tenho, que a vida é justa comigo. Muito pelo contrário: acho que Zambi - Deus, Alá, O Universo, GADU etc. - foi bem generoso comigo nos últimos anos. Mas isso é outro assunto...

Fato é que apesar de meu medo, pelo posto que me foi outorgado Xangô se faz presente ao meu lado. Afinal de contas sou eu que devo arbitrar sobre as divergências na casa, apaziguá-las e manter o templo em ordem, dando a quem merece e cobrando de quem deve. É duro isso, exige de mim maturidade que eu mesmo pensava não ter.

Um dos temas mais delicados que cercam minha tarefa é a transição dos fios de conta (guias), pois em nossa casa elas representam o preparo mediúnico do fiel. Esta graduação vai das miçangas mais finas (miçanguinhas), passando pelas miçangas grossas, contas de porcelana, de cristal, brajás de três fios (nível de padrinhagem) e de sete fios (para chefes de terreiro). esta transição deve ser pautada pela meritocracia, não por motivos políticos, contudo é no momento em que um irmão alcança um grau elevado que outros começam a questionar sobre o tempo de casa, proximidade dele com membros da padrinhagem etc. A nuvem da desconfiança nubla o ambiente e as conversinhas maliciosas começam a dominar a cozinha do templo e os encontros sociais entre membros da corrente fora dos dias de gira. Com isso mais uma vez o foco exigido do fiel é desvirtuado, me deixando pasmo como um adorno colorido pode causar tamanha discórdia.

Graças a esse fenômeno que não é raro nos templos, resolvi cessara as transições momentaneamente, impondo um grau de exigência muito maior para a graduação. Com a paralisação a esperança é que a moda de trocar de guias passe e o foco no imaterial volte, que todos lembrem que são irmãos e iguais perante Zambi. E que aumentar de guia não significa status, significa que quando a dificultade se fazer presente o graduado será cobrado antes dos outros, que ele ganhará menos afagos pois terá a obrigação de evoluir sua consciência e se tornar um distribuidor de carinhos a quem necessita.

Uma guia maior é um voto de confiança, é mais uma página do contrato que assinamos ao entrar para um terreiro. Mais cláusulas, mais cobranças.

Sinto falta de minhas guias finas, minhas costas doíam menos...

Axé.

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