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25 de out. de 2016

O Batismo na Umbanda

Batismo na Umbanda


Em nossa última gira - festa em homenagem à nossa mãe Oxum - nós realizamos o batismo de um de nossos filhos. Foi a segunda vez que executamos este cerimonial e a primeira vez que eu o conduzi.
Eu amei aquilo. A energia que circulava entre nós, o significado daquele rito de passagem, a emoção dos presentes. Tudo foi extremamente simples, sincero e bonito.

Beleza à parte, nossos filhos ficaram curiosos sobre tudo o que envolve o batismo umbandista, pois é um assunto que pouco falamos (porque eu não sou batizado, nunca senti a necessidade disso) e acho que entre os leitores desse blog há muitas pessoas que também tem suas dúvidas. Então vou discorrer sobre isso em alguns tópicos breves.

O que é o batismo?
Basicamente é o rito em que o indivíduo se aceita como fiel. Se entrega à Santidade, aceitando a sua missão, palavra e ensinamentos. É recebido pelo Altíssimo tendo como tutores e interlocutores os seus padrinhos (palavra que vem do italiano Padrino ou Madrina, que significa, respectivamente, pequeno Pai e pequena Mãe).

O Batismo Compulsório x Batismo por Aceitação
Por cultura nós temos medo de deixar as nossas crianças sem batizar e, por lógica, pagãs, ou seja, sem a aceitação de Deus (de Olorum, Oxalá, Zambi etc.), então corremos e a batizamos na igreja ou no terreiro logo que elas nascem. Este batismo é compulsório, ou seja, é imposto à criança. Ela não fez valer o seu direito de escolha, não aceitou (sabendo de seus deveres, riscos e obrigações) aquela religião, aquele Deus.

Anos mais tarde, já crescida, vivida, testada, experimentada, castigada e refeita, aquela criança já tem maturidade suficiente para decidir que religião seguir -  ou mesmo se quer seguir alguma! Digamos que ela deseja seguir os ensinamentos da Umbanda e resolve se batizar. Neste caso o batismo é por aceitação. Dou este nome porque ele é fruto de uma escolha consciente da pessoa, que estudou a doutrina e a missão umbandista, ponderou tudo e, enfim, aceitou Oxalá como seu mentor maior.

Posso não me batizar?
Falando estritamente sobre Umbanda e MAIS ESTRITAMENTE AINDA sobre o terreiro que dirijo, a resposta é sim embora a minha mãe de santo discorde completamente e eu sou o maior exemplo disso, toco a minha missão e amo o que faço. aceitei a Umbanda (e ela me aceitou) de coração, sem necessidade de ritos.

Você tem alguma dúvida ou quer acrescentar algo? Comente!

Axé.

25 de ago. de 2016

Terreiro de Umbanda: grande ou pequeno?

Quando a gente sequer tinha um teto para fazer nossas giras: uma de nossas fases mais felizes.


Um terreiro de umbanda deve ter como objetivo (além da prática incessante da caridade) o crescimento físico, ou seja, a quantidade de pessoas em desenvolvimento e o tamanho to templo? 

Eu olhei para o passado

Vivemos na era do hiper-registro e isso, em minha opinião, é muito nocivo para o convívio social, afinal a gente passa mais tempo criando registros do que realmente vivendo as situação. Todavia como tudo tem dois lados, este costume fez com que eu registrasse o meu terreiro durante anos, me possibilitando uma visita objetiva (sem as armadilhas emocionais da memória) ao passado de nosso templo. Vi que o nosso terreiro se reinventou ao logo dos anos, tivemos dezenas de médiuns na corrente, passamos por fases em que a gira tinha 3 ou 4 pessoas e por aí vai. Cada fase com o seu tom.

Nesta análise eu dei especial atenção ao fator populacional da casa. Por que crescemos em número de pessoas? Em quais épocas isso aconteceu? Por que o número retraiu? Qual a razão desta flutuação populacional?

Percebi que o fator que influenciava esta flutuabilidade era o conflito entre o ego de seus dirigentes (eu me incluo MUITO aqui) e o propósito da casa. Eu explico:

O ego do dirigente: se você dirigisse uma templo, iria querer que ele ficasse vazio ou cheio? Cheio, claro! Se você se depara, por exemplo, com dois restaurantes, sendo que um está completamente vazio e o outro está razoavelmente cheio, você optará pelo cheio, não é? Se todos preferiram o segundo é porque sua comida e serviços é melhor, você pensa. Para um dirigente (que é um ser humano comum, nunca se esqueçam disso) a lógica é a mesma, porque casa cheia é mais alegre, os pontos são entoados de forma mais vibrante e (aí entra mais a questão do ego) é sinal de sucesso.

O propósito da casa: se a casa nasceu para ser pequena, ela será pequena sempre, não importa o quanto você se esforce pelo contrário. Não somos nós, mortais e limitados, que decidimos isso, até porque a casa não nos pertence, ela é parte dos desígnios de Deus, dos orixás e das entidades. São eles quem fazem tudo acontecer, quem decidem as grandes diretrizes, quem fica e quem sai ao longo do tempo. Á gente cabe a administração de pessoas, processos, números e da ordem, o que é muita coisa.

Quando a gente desistiu dessa "queda de braço" entre o que queríamos e o que a casa realmente é, ficamos em paz. Somos uma casa pequena e permaneceremos assim para sempre.

Se você quiser saber mais sobre as características de uma casa grande e de uma pequena, leia este texto.

Axé!

17 de jul. de 2016

Me sinto desconfortável no terreiro, e agora?



"Eu amo esta casa, é o terreiro que eu escolhi para me desenvolver, mas não consigo me sentir a vontade aqui".

É com esta frase que eu inicio o texto deste mês. Algo comum de acontecer e que pode te levar à questões mais incisivas como, por exemplo, se você está na casa certa.

Quando escolhemos um terreiro para ser o nosso lar de desenvolvimento mediúnico e espiritual é natural que a gente espere que tudo aconteça emocionante, acolhedora e maravilhosamente. É quase como em um namoro, não é?

E é exatamente isso! Quando a gente se apaixona e sabe que aquela pessoa é para a vida inteira, queremos estar com ela, crescer junto dela, criar uma história ali. Queremos que as coisas aconteçam. E é assim no terreiro também, com a exceção de que uma casa umbandista é muito mais complexa, por ser formada por várias pessoas, por ter uma história longa, por conta do dinamismo da Umbanda.

Se você, irmão ou irmã de fé, recém-chegou na casa que fez seu coração bater mais forte, vestiu o branco, mas ainda não se sente totalmente integrado à gira, o que lhe causa certo desconforto, não se preocupe. Meus conselhos para você são:

1 - Fale com seu zelador: é obrigação dele saber tudo sobre todos os filhos da casa, principalmente os mais novos, que requerem maior atenção. Seus zeladores saberão te acolher e sanar as suas dúvidas, acalmando a sua ansiedade.



2 - Canalize seu desconforto para algo positivo: a ansiedade para ver as coisas acontecendo é, na maioria das vezes, a mãe de todo desconforto inicial dos neófitos umbandistas. Utilize isto para buscar informação sobre a sua casa, os guias, o propósito da religião, sobre a importância de cada membro na corrente, sobre tudo o que você pode fazer no terreiro. Quem sabe se você é predestinado, por exemplo, à corimba, mas está canalizando seus esforços para o desenvolvimento na incorporação? Há muitas atividades no terreiro e tenho certeza de que você será útil em todas elas e isso vai lhe fazer um bem enorme!


Na Umbanda, 99% das coisas relevantes acontecem de forma invisível. E eu não falo apenas do plano espiritual, falo também do íntimo do médium (sua personalidade, controle de ansiedade, relacionamento interpessoal e vontade de aprender) e do plano das ideias, que é o conhecimento formado a partir das informações que recebemos.

E você, já passou ou passa por algo semelhante? Conte para a gente!


3 de jun. de 2016

Como entrar para a umbanda: a iniciação


Venho desenvolvendo aqui uma série de textos para as pessoas que desejam entrar para a Umbanda, hoje falaremos do processo de iniciação.

Este assunto é complexo, porque cada casa tem o seu processo de iniciação, com seus rituais, ensinamentos e procedimentos. Sendo assim, falarei sobre a realidade do terreiro que dirijo, sobre a minha visão disto tudo.

Como o Portal dos Orixás (a casa que dirijo juntamente da Mãe Raquel) tem por fundamento a informalidade e o clima familiar, várias pessoas acabam vindo até nós, empolgadas pelas palavras que receberam e pelo clima harmonioso entre os membros da corrente (aqui eu não sou chamado de Pai e beijo a mão de quem me pede a bênção, o mesmo vale para Mãe Raquel), pedem, mesmo que após duas ou três giras, para entrar para a nossa família.

Muitas delas fazem isto na empolgação, outras infelizmente o fazem por vaidade (afinal, vestir o branco e estar ali naquele "seleto" grupo deve ser o máximo, pensam). Para estas pessoas basta o primeiro alerta: dá para ser umbandista sentado na assistência também, estar aqui não é só alegria, muito pelo contrário, requer compromisso não apenas com a corrente, mas com o mundo. Isso basta para conter os ânimos.

Porém há um seleto grupo de pessoas que passam por este primeiro crivo, por estarem certas do que querem, o que é muito bom para eles e para a nossa casa, e me perguntam sobre a iniciação: o que precisam fazer para estarem aptos a se desenvolverem?

Se eu pudesse ler suas mentes, de certo veria imagens como cabeças raspadas, dias dormindo na esteira, oferendas para todos os Orixás que cultuamos, cursos e mais cursos de capacitação (ah esses jornais de umbanda, que promovem a comercialização de nosso conhecimento...) entre outras coisas.

O fato é que a iniciação vem de dentro, é o querer estar na corrente pelas razões certas, é sentir o chamado da causa, assumir o compromisso. Se você cumpre com estes requisitos, já tem o que precisa para se desenvolver, porque de nada valeriam amacis, banhos, obrigações, oferendas e recolhimentos, se você não está realmente certo do que quer para a sua vida espiritual, se não conhece o propósito da Umbanda ou da casa que irá frequentar.

Você pode ser iniciado por fora, mas se não for iniciado por dentro, na alma, nenhum banho ou oferenda vai te preparar.

Em nossa casa, em minha visão de Umbanda, o Ser sempre será maior que o Ter e o Fazer.

Muito axé para vocês!

25 de mar. de 2016

Você faz parte do seu terreiro?

Fazer Parte de um terreiro de Umbanda

Para você, o que significa "fazer parte de um terreiro"?

Se sua resposta for algo do tipo "É ir nas giras, incorporar, me dedicar e respeitar o congá", vocês está redondamente enganado.

Para explicar isso melhor, vamos quebrar a frase em duas partes e explicar cada uma delas.


  • Fazer parte = participar. Se você vai ao terreiro, você tem que ser ativo, tem que fazer de tudo para que aquela chama continue acesa, afinal é a sua casa espiritual, é o seu lar, sua escola e seu abrigo. Seja ativo! Não se esqueça de que o terreiro não deixa de existir após a gira, participe de todas as suas atividades, converse com seus irmãos, ensine quem está começando, aprenda em conjunto. Mais uma vez: seja ativo!

  • Terreiro = propósito. Já falamos várias vezes aqui que o terreiro não é um conjunto de paredes e um teto, terreiro não é um endereço. terreiro é o propósito que une as pessoas, que as tornam uma família. O propósito não deixa de existir entre uma sessão e outra, você não deixa de ser filho e irmão de santo entre os trabalhos. não é porque você vai à gira e incorpora muito bem, não é porque seus Guias estão bem desenvolvidos, que sua missão está cumprida, que suas obrigações para a manutenção do propósito estão reduzidas.
Fazer parte de m terreiro é, em suma, participar de um propósito, é fazê-lo acontecer. É ajudar, se preparar, treinar, estudar e - acima de tudo isso - compartilhar, ajudar seus irmãos.

Então não se limite a ir às giras, participe das atividades de seu terreiro. Não é porque você sabe cantar um os pontos, por exemplo, que você pode se recusar a ir em um encontro da casa cujo propósito é aprender a cantar. Não é porque sua aura está limpa, que você vai se recusar a ir em uma sessão de descarrego. E assim vai.

Participar é semear, não é colher e exibir os frutos.

Axé para vocês.