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27 de abr. de 2012

PROIBIÇÃO NA UMBANDA E OUTRAS RELIGIÕES


Chega a ser engraçado como as ideias surgem, não é? Ontem eu estava escrevendo um texto para a publicação de hoje, mas a inspiração me faltava - escrevia sobre a festa de Ogum e reabertura da Federação Umbandista Caboclo Cobra Coral e Iansã, que em breve será publicado aqui. Mas sem a devida inspiração o texto perde o seu conteúdo, tornando-se apenas forma. Fechei a janela e saí, fui ao mercado sob uma chuva que começava a ganhar volume quando passei por duas senhoras que, pelos trajes, me pareciam evangélicas e conversavam sobre algo que não entendi o que era - e realmente não importava - até que uma delas diz:

"(...)ela ainda não pode fazer porque a igreja não permite isso(...)"

Parei um pouco para pensar sobre isso. É realmente uma incumbência da religião decidir o que um fiel pode ou não fazer? Podemos restringir o livre arbítrio da pessoa a esse ponto? Que eu saiba, não. É trabalho da religião mostrar o melhor caminho, servir de guia, de professor a formar pessoas de bom senso, capazes de distinguir o que é certo ou errado em cada situação.

Na Umbanda pregamos a Lei do Retorno, ou seja, tudo o que uma pessoa, pensa, faz ou deseja para o próximo acaba voltando contra ou a favor de si. É responsabilidade de cada um as suas ações, bem como as glórias e penalidades por elas. É obrigação da Umbanda, dos Orixás e dos zeladores da casa manter o diálogo com os filhos afim de alertá-los sobre os perigos de suas decisões, mas daí a dizer que um filho está proibido de fazer esta ou aquela coisa, por pior que seja, isso Orixá nenhum faz - de Ogum ao Cigano, do Boiadeiro à Oxum. eles te dirão que é errado ou até que não podem ajudar, que você estará sozinho nessa.

A decisão de errar pertence a cada um. À religião cabe a obrigação de alertar, não o direito de proibir.

Axé.

12 de abr. de 2012

CONFIAR EM SI

Amigos o texto de hoje é - mais uma vez - sobre aprendizado, contudo fica a observação que sempre faço, muito embora ela nunca tenha feito tanto efeito quanto dessa vez: "Aprendemos mais com nossas falhas. Magnânimo é o homem que aprende com seus deméritos".

Por dias minha Zeladora Espiritual me convocou juntamente de meu irmão de batalha, Pai Peninha, para uma reunião que trataria do desenvolvimento espiritual de parte de nossos filhos. Confesso-lhes que antevia momentos modorrentos de uma mesmice sem fim. Sim, tenho lá os meus preconceitos. Porém é nessas horas que os orixás nos preparam as maiores surpresas, não é mesmo? A vida é assim...

Nos deparamos com um problema que exigiria algum tipo de postura inédita de nós três, tanto no ponto de vista ético quanto no que tange rituais. Seria um esforço para arrastar tudo de volta à normalidade e impedir o desgaste de almas ainda inocentes. E foi aí que meu aprendizado começou.

Irmão em entrei em estado de concentração profunda, fui sugado para algum lugar dentro de mim de forma que os comentários ao redor não passassem de meros ruídos. Aquilo foi compulsório, alheio à minha vontade e disposição - logo eu que sempre afirmei ter mediunidade nenhuma além-templo! Eu vi o que deveria ser feito, não foi ninguém que me soprara ao ouvido, aquilo foi real e aconteceu diante de meus olhos ainda cerrados. Cada ordem, cada passo a ser dado, os pontos riscados, os elementos, tudo. Seria magnífico se eu não tivesse me calado, afinal o pragmático Pai Claudio que sempre afirmou seu ignóbil talento místico estaria afirmando ter ali, diante de todos, pela primeira vez e num momento tão importante, uma viagem astral instantânea que revelaria a (possível) solução de um intrincado quebra cabeças. Estranho, não? Eu achei e - burro -  me calei.

Como resposta a isso obtive o castigo. A inquietação me corroía a alma, as conversas que antes não passavam de surdos ruídos se tornaram num infernal enxame de palavras bimbalhando em minha cabeça. Não resisti e pedi para sair, ir para a rua me parecia a melhor solução naquela hora. Primeiro pé na rua e eu já não estava mais ali e, após um tempo incontável de escuridão, eu soube que o Sr. Exú Marabô nos havia feito uma visita e - pasmem! - dissera tudo aquilo que eu vi outrora.

Horas depois confessei ao Pai Peninha o que havia se passado e como resposta ele me disse - certamente fazendo coro com todos os orixás possíveis: "Você precisa confiar no seu taco".

E eles estavam certos, totalmente certos. Nós temos o poder de buscar as respostas no infinito, basta-nos fé e preparo. Somos capazes de coisas grandiosas todos os dias. Vamos assumir isso?

Axé.

Em tempo: nosso irmão Rodrigo Conceição está internado no Hospital Municipal de Itanhaém com quadro grave de apendicite. Fizemos uma grande corrente de oração e ele está melhorando, por isso peço a todos os irmãos que oremos juntos por ele todas as noites, até que ele volte para sua família e amigos. Amém.

6 de abr. de 2012

O MESMO NOME


Quem é médium via de regra acaba desenvolvendo um carinho fraternal com seus guias protetores, por inúmeros - e compreensíveis - motivos, que vão desde a afinidade com o axé do Guia (que nos faz bem, nos purifica, pois enquanto eles se valem de nosso corpo etéreo estamos recebendo passes), passando pelo aprendizado que temos a cada dia, pela admiração que desenvolvemos pela obra e também pela razão história, nossos mentores nos acompanham há vidas, são nossos pares na erraticidade, nos ensinaram em vidas passadas e agora nos ajudam a evoluir enquanto seguem na trilha da Luz.

Contudo a Umbanda tem uma particularidade: os Mentores Espirituais adotam nomes gerais para o trabalho em detrimento de seus nomes de quando encarnados, como Caboclo Flecha de Fogo, Lampião, Pena Branca, Zé Pilintra, Martim Pescador e por aí vai. E com isso pode coincidir de um médium se deparar em outro terreiro (ou até no mesmo que frequenta!) com um Guia cujo o nome de trabalho seja o mesmo de algum Orixá que lhe seja afim. Mesmo não sendo necessariamente os mesmo Orixás (afinal, há apenas uma Maria no mundo?), em 99% das vezes há no médium uma certa insegurança e até ciúmes por conta disso, talvez uma mera insegurança por nos acharmos menos especiais. Os motivos são variados, mas o fato é que com o tempo entendemos e nos acostumamos com isso, eu mesmo por trabalhar com o Sr. Zé Pilintra me deparo com algum Orixá da mesma linha a cada visita que faço em um templo - na casa que frequento, por exemplo, há três!

Embora já acostumado com tais encontros, confesso a vocês que revivi esta ansiedade pueril no último dia 31 quando fui honrosamente convidado pelo meu amigo e irmão de fé, Rafael Arruda, a participar de sua última obrigação no Barco (Curso de formação de sacerdotes) da Aldeia de Caboclos. A obrigação seria ao Orixá Exú, comandada pelo Pai Engels de Xangô e seu respectivo Guardão, Sr. Exú Marabô. Fato é que o Exú que me guarda também carrega este nome e, como havia dito, apesar de estar acostumado com esta situação, confesso-lhes que me senti uma criança na aflição de encontrar pessoalmente pela primeira vez um grande ídolo. Eu estava respeitosamente em silêncio enquanto fotografava a cerimônia quando o vi há duas salas de distância, Pai Engels, corpulento estremecendo-se enquanto entrava no transe e dava passagem ao Exú, sua gargalhada inconfundível atravessou as salas enquanto ele vinha na direção do ponto firmado, no meio do caminho ele cantava e benzia seus filhos. Em segundos me deparei diante daquela figura espiritualmente enorme não tive como não me ajoelhar. O saudei e recebi um forte abraço - aquele abraço acolhedor que todos me falavam - e ele me olhou nos olhos e disse: "A casa aqui é sua, saiba que tudo o que precisar é só me chamar".

Naquele momento eu percebi duas coisas:
  1. Não sei se aquele era o mesmo Marabô que me acompanha. Provavelmente não, mas não me importo.
  2. Somos filhos de todos os Orixás, não importando seus nomes ou se eles se valem de nosso corpo para trabalhar.
Axé.