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24 de fev. de 2012

A NUVEM


O que eu mais gosto na Umbanda? O fato dela ser uma grande nuvem. Sim, algo de proporções monumentais, que só conseguimos perceber sua magnitude quando nos distanciamos, pois quando dentro ela nos envolve ao passo que não conseguimos mensura-la, compreende-la como realmente é.

Isso se deve à sua heterogeneidade, ao fato de cada casa ser única, uma célula num grande organismo que embora não possua um cérebro, sabe muito bem para onde ir e como chegar lá. Aliás esse organismo chamado Umbanda possui sim um cérebro: Deus. E é isso o que a difere de todas as demais religiões - e o que, particularmente, me conquistou: nós umbandistas não possuímos um Papa, um Apóstolo ou um Bispo para servir-nos (ao menos hipoteticamente) de interlocutor com Deus. A própria Lei de Umbanda nos ensina por meio do dia a dia e do contato com os Orixás que devemos buscar Deus dentro de nós mesmos. Aprendemos que o indivíduo jamais deve se sobressair ao grupo.

A beleza da Umbanda está nas pessoas e no que elas são capazes de fazer juntas e da forma mais simples possível. São tantas histórias para contar, casos de superação e abnegação, pessoas de todas as idades, gêneros, cores e níveis sociais. Todos juntos formando o Exército Branco de Pai Oxalá, marchando como uma nuvem no céu, heterogenia para quem vê de perto, constante e inevitável para quem a vê ao longe. Juntos somos gigantes.

Axé.

NOTA: Ao escrever esse texto tive a curiosidade e a ideia de abrir espaço para que vocês, irmãos que acompanham este blog, contem as suas histórias marcantes na Umbanda, como chegaram ao Templo, o que esperam de sua religião. Sempre que me contarem algum relato, prometo transcreve-lo aqui. Pois estou há quase um ano falando só de mim e gostaria de saber mais sobre vocês.

21 de fev. de 2012

PRECEITOS


Hoje eu gostaria de falar sobre os preparativos de cada pessoa para a gira espiritual. É consenso que não devemos comer carne de qualquer espécie, ingerir drogas ou fazer sexo. De praxe também são os banhos de defesa com ervas e essências consagradas. Contudo essa não é a parte principal da preparação do espírita para um dia de sessão espiritual.

Como me disse certa vez Sávio Palazzo - um dos mais cândidos oradores espíritas que conheci - "O alimento do corpo é o pão, o da alma são os pensamentos". E isso me leva à conclusão de que, assim como tudo em matéria de espiritismo, Umbanda etc.,  parte de dentro para fora, do âmago para a superfície, ou seja, não importa o jejum que você fizer, os banhos que tomar e as velas que acender, a sua condição íntima será sempre fundamental nos rituais de preparação.

Pouco importa se você tomar uma ducha apressada ou um demorado banho de boldo e pétalas de rosas brancas, se por dentro você está negativo, preocupado com seus problemas e - pior! - com os problemas e vida alheia ou se sua alma estiver afogada de forma crônica na negatividade. as vezes um simples deslize pode colocar toda a preparação a perder: aconteceu certa vez comigo, havia feito o jejum e os demais rituais quando num instante discuti de forma grave com amigos queridos. Tomado pela raiva deixei todo o período de preparação escorrer ralo abaixo. Não tive condições de comparecer no Templo.

Eu até poderia, porque assim como alguns fiéis descobriram, é possível o contato mediúnico com o plano espiritual sem executar os preceitos, contudo eu e a maioria dos filhos de Umbanda sabemos que embora possível, fazer tudo nos conformes trás resultados maravilhosos! Por isso preferi ficar em casa ao lado de pessoas que amo em vez de prejudicar a gira e as pessoas que tanto prezo.

Claro que fui repreendido e incompreendido por alguns, absolvido por outros e tenho a certeza de que os Mentores e Orixás compreenderam minha atitude nesse dia e também compreenderão essa mesma atitude quando outros filhos a tomarem. E vocês o que fariam?

Esse é um exemplo do conhecido Orai e Vigiai de Jesus. Ore pelo próximo, vigie os seus passos.

Axé.

10 de fev. de 2012

PREVISÕES


Sou contra previsões. Sou a favor da teoria da imprevisibilidade do destino, aquela que afirma que o futuro vai mudando a cada passo que damos. É certo que há certas coisas na vida que obrigatoriamente teremos de enfrentar, como a morte - óbvio - e os resgates cármicos, contudo todo o restante é imprevisível e totalmente atrelado a cada atitude que tomamos na vida.

Por isso que sou categórico em minhas conversas com os filhos de santo quando falo que de pouco vale saber onde está o fim da corrida sendo que o mais importante é a trilha a percorrer. Quando recebemos uma previsão, seja ela qual for, perdemos o foco na caminhada e olhamos apenas para o objetivo que nos foi revelado. Assim nos induzimos sem saber a seguir um determinado caminho, e o pior: não aprendemos nada com isso, nos tornamos gado passivo de uma sugestão.

Se a previsão for desanimadora, pior ainda! Desistimos até de trilhar, nos basta esperar a desgraça anunciada. E a pior coisa é que nesses casos é 100% de êxito para a previsão desoladora pelo simples fato de que quando ficamos inertes as coisas boas deixam de acontecer. Porque na vida reina a lei do merecimento, ou seja, você recebe aquilo que fez por onde receber. E se você não faz nada, simplesmente desiste? Aí vai assistir de camarote a felicidade alheia, vai viver à sombra de quem não se importa com notícias negativas e segue lutando.

Certa vez, quando um Orixá me disse que eu seria Pai de Santo e zelaria por uma casa, que aquilo seria inevitável, eu tinha basicamente duas coisas a fazer:
  1. Me conformar e esperar o tempo passar, por logo menos eu seria laureado com o cargo mais querido de um terreiro. O resultado disso: eu estaria esperando até hoje.
  2. Viver minha vida como se eu sequer tivesse ouvido aquilo, afinal de contas aquilo era inevitável, então eu deveria seguir minha vida normalmente com foco em minha missão de caridade e busca por conhecimento. O resultado: estou aqui hoje escrevendo para vocês.
O texto de hoje é para mostrar que inevitável mesmo é viver. Porque o que se leva dessa vida é a vida que a gente leva.

Axé.

3 de fev. de 2012

SOU SIM


Amigos eu inicio este texto com uma grande revelação: eu sou umbandista. Não estranhem isso, este autor não está ficando louco ou meio perdido porque ficou 20 dias sem escrever aqui. Não. Digo isso porque me sinto maduro o suficiente para abrir ao mundo a minha religiosidade - racional, diga-se de passagem - doa a quem doer, custe o que custar. Já passou a época de o culto afro-brasileiro continuar às margens da sociedade.

Quem lê meus textos sabe de minha aversão à high society umbandista, com seus  prêmios e noites de gala, medalhas e estatuetas, seus livros de teologia que sequer eles compreendem. Mas embora eles passam do ponto com tanta pompa e circunstância, uma coisa eles não negam ao mundo: que são umbandistas, que são gente de terreiro, que tem sangue africano nas veias!

Certa vez fui numa entrevista de emprego numa importante instituição de filantropia, uma vaga de Marketing de encher os olhos, na ficha cadastral havia a questão "qual sua religião?", dediquei alguns segundos para entender como uma religião poderia ser importante em um processo seletivo, se eu me tornaria melhor profissional se fosse evangélico ou budista, talvez. Escrevi "Umbandista" na ficha e, não contente, na hora da entrevista em si eu ainda confirmei que co-dirijo um terreiro de Umbanda e escrevo em um blog sobre o tema. Claro que sequer recebi um feedback da vaga, não que objetivamente a minha condição de espírita tenha me excluído do processo, mas a cara dos demais candidatos e da recrutadora denunciaram a estranheza. Após o processo, curiosamente, alguns candidatos vieram me perguntar sobre o terreiro e o blog. eram umbandistas, mas não falaram.

Para mim aquele dia foi um marco, a data em que decidi não me render ao preconceito branco (no sentido de velado) às religiões ditas pouco ortodoxas. Eu não me envergonho de vestir branco e fios de conta, de ter as mãos cheias de bolhas de sangue, frutos do toque no atabaque, não ligo em estar afônico por ter cantado a noite inteira os cânticos da minha fé - e de milhões de outros brasileiros também! quando me perguntarem eu direi a verdade, direi que sou filho de Pemba, que bato cabeça à Zambi, que viro de caboclo a Exú sem medo de ser feliz.

Quando todos tiverem essa coragem, ser umbandista será algo tão comum quanto ser católico não praticante. E você, vai responder o que quando te perguntarem a religião?

Axé.

P.S.: aproveito o espaço para agradecer a presença dos vários amigos, filhos e irmão em nossa Festa de Oxossi, no Santuário de Umbanda, em São Bernardo do Campo, SP. Quem quiser ver as imagens desse dia histórico é só clicar aqui.