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31 de mar. de 2011

Orixás e suas lendas


Orixás. Leio e releio as lendas da criação segundo a crença africana, cheia de histórias e passagens belas e animadas sobre a vida dos orixás, seus feitos, virtudes e defeitos. São ótimas parábolas que sempre passam valores como a batalha, a humildade e coragem, mas certo dia assisti ao programa "Mojubá" do Canal Futura no episódio que tratava do sincretismo entre as divindades Nagô e os santos católicos. Explicações belíssimas, separando as origens, dando exemplos claros, até que um rapaz diz que Iansã não é Santa Bárbara até aí tudo certo - até porque Iansã viveu há 2.500 anos atrás em algum lugar da África e começou a dar detalhes precisos como se a conhecesse mesmo. É levar as lendas muito ao pé da letra.

A etimologia da palavra Orixá quer dizer energia de cabeça, ou seja, a vibração das forças naturais inerentes a tudo o que existe, vibrando em nossas cabeças. Simples. Tudo na vida emana energia, assim como a energia Iansã vibra através dos ventos, Xangô nas pedras, Oxossi nas matas e Iemanjá no mar. Orixá é imaterial e atemporal, existe desde que o tempo é tempo, o que vemos e "recebemos" no templo são seus caboclos - espíritos de pessoas que trabalham na faixa vibratória de cada Orixá. Nada mais.

As lendas surgiram para facilitar a compreensão dos tribais africanos na época, aproximando-os da espiritualidade e tornando os Orixás mais comuns a eles. Daí nasceram os rituais às divindades que na maioria das vezes derivam de festividades dos próprios tribais. Um bom exemplo? Se quiser presentear um nigeriano, dê a ele um bode morto na hora, ou uma galinha ou o que você tiver de melhor. Há milênios o que havia de mais rico para os tribais era comida. Comida viva, diga-se de passagem. São coisas materiais que aproximam a consciência humana da noção do divino, por isso nos templos de umbanda usam-se imagens e velas coloridas, para criar em nossa mente a representação do santificado. Velas coloridas nos lembram do Orixá ao qual rogamos e assim assumimos nossa posição de crente em sua força, mas na verdade sequer necessitamos delas sendo que a verdadeira chama deve ser acesa dentro de cada um.

Podemos acreditar naquilo que não vemos, mas jamais acreditaremos no que sequer podemos imaginar.

28 de mar. de 2011

VILMA E BENEDITO


Engraçado como depois de criar esse blog e voltar a pensar sobre a Umbanda eu comecei a rever e relembrar grandes pessoas que conheci e ficaram pelo caminho. Pessoas por quem eu desenvolvi um amor de pai, de irmão, de amigo. Gente que muito cooperou para a formação do meu caráter, me apoiando, criticando e contendo os meus impulsos quando necessário, nos momentos de extrema euforia ou raiva ou tristeza, enfim, pessoas que me equilibravam.

Se fizeram isso comigo, imagine com os demais irmãos do templo ou com seus pares? Gente que encontrei buscando um sentido, pessoas que acreditavam saber o que é a felicidade e aos poucos foram sentindo o doce sabor de servir ao próximo. Com eles intercambiei valores e garanto que aprendi muito mais do que ensinei, afinal o que um garoto tem a ensinar à velhos lobos já surrados pela vida? Até tem, mas deram muito mais. hoje repasso a quem tem bons ouvidos e paciência para tolerar meu senso de humor falho e inoportuno.

Na passagem de Belzebú - que um dia contarei a vocês - quem me serviu de bastião foi uma dessas pessoas, Vilma Carnevali, senhora franzina e de fala mansa que mal consegue respirar. Mesmo assim ela sabe tocar o coração de quem necessita, planta as dúvidas necessárias para que cresçamos questionadores e fortes, ela enxugou o sangue que me corria solto na alma e que quase me fez desistir da trilha. Tudo isso com palavras, com sua risada carregada de tosses e valendo-se de sua miudeza enquanto deixava-se abraçar. na verdade era eu o abraçado por seu carinho e ternura. Dona de caráter único e retilíneo, inflexível em sua fé, Vilminha é paladina incansável e serva de um dom único: o da palavra. Nem me prolongarei em seu dom da visão, de sua sensibilidade ímpar em incorporar bons espíritos, a palavra de Dona Vilma é o remédio exato para para aliviar qualquer dor. Daria minha vida por ela se isso saldasse a dívida de gratidão que lhe tenho. Mas isso não pagaria.

Infelizmente sua saúde não permite que ela viaje até o templo e em virtude disso Pai Benedito das Almas, seu protetor desde sempre, achou por bem que ela se retirasse das atividades do terreiro. tudo aconteceu na maior simplicidade em sua casa, como deveria ser. Benedito veio, falou o que deveria ser dito e retirou, como sempre fez, lágrimas dos olhos dos presentes. Só que dessa vez em sua despedida. Não mais ouviremos o bater do cajado no chão e os dedos não apontarão mais ao céu em sua partida porque Benedito das Almas cuidará de seus filhos a partir do astral.

Eu perdi essa passagem, infelizmente. Vilma e Benedito, lhes devo uma lágrima, mas pagarei em sorrisos.

Amo muito vocês.

26 de mar. de 2011

E Jesus?



Hoje dediquei um tempo a olhar alguns tópicos de discussão sobre Umbanda e me deparei com um tema que abordei em 2008: Jesus Cristo e sua relação com a Umbanda.
Eu participava de uma comunidade destinada ao estudo e discussão acerca da religião, composta por mais de 3.000 pessoas e reconhecida por sua racionalidade e tolerância, característica que ainda mantém. Contudo me surpreendi com algumas respostas que tive. Não sei se no momento eu ainda mantinha certa ingenuidade e esperava que todos partilhassem de minha opinião acerca de Jesus e acabei me assombrando, mas fato é que hoje mesmo após três anos eu ainda me assombro com o que li. Vi respostas que chegaram a ridicularizar a história de Jeseus esua importância para os umbandistas, falando que Jesus como não faz parte do panteão africano não possuía vez de culto nos templos, que a tradição umbandista o relegava a mera representação cincretizada numa imagem, que a Umbanda o reconhecia apenas como um profeta que se destacou dentre muitos outros. Apenas isso.

Tentei rebater evocando as palavras de Jesus, sua missão na terra e toda a herança moral que ele deixou, parafraseei sua máxima "Amai ao próximo como a si mesmo.." e fui ironizado. Uma distinta moça me disse que amar ao próximo é uma utopia, que ninguém é capaz disso. Claro que ainda não somos, mas dizer que é utopia é assumir condição passiva na evolução, reconhecer que jamais conseguirá andar adiante rumo à pureza, é jogar fora a chance de melhoria nessa encarnação.

Aderi aos preceitos Umbandistas por eles estarem intimamente ligados aos ensinamentos de Cristo ("Amai ao próximo", "Fora da caridade não há salvação" etc.) e também pela capacidade desta religião em absorver culturas e conhecimentos. A Umbanda é uma religião de braços e portas abertas a tudo o que agregue valor, não temos um sumo-sacerdote e nem um livro-mestre como a Bíblia, a Tora ou o Al Corão que nos limite. A umbanda é feita a cada dia, a cada pensamento que temos sobre ela, em nossa cultura não cabem dogmas e é isso que a torna tão bela e tão pura. Agora me respondam, se recebemos de bom grado todas as culturas que contribuam com a evolução de nossa crença, afinal os Ciganos não não fazem parte do panteão de Orixás africanos, assim como os marinheiros, boiadeiros, baianos e demais linhas auxiliares e mesmo assim os cultuamos, por que essa corrente insiste em relegar a fé cristã ao lado de fora do templo?

Axé.

24 de mar. de 2011

A Ordem


Certa vez eu tive um sonho que estava mais para insight, sonhei acordado. Foi isso. 
Nesse dia eu atravessava então um período de profunda introspecção e releitura de meus conceitos. Estava insatisfeito com os rumos de minha crença, com a superficialidade dos fieis que não compareciam ao templo para doarem-se e sim para receber. Se preocupavam mais com a hora de tomar passe do que em compreender o real sentido de suas vidas, não tinham prazer algum em servir à evolução e sequer se preocupavam em entendê-la. Estava descontente.

Não conseguia entender porque eram tão dependentes assim, pessoas vividas e já calejadas pela vida beiravam o vício por uma consulta. queriam falar sobre seus pais, primos, tias, cachorros, passarinhos por horas a fio. Esperavam que os Orixás resolvessem suas vidas em cada esfera, mesmo que mais insignificante que ela fosse. Viciados, isso que eram. E esse vício ganhava proporções maiores, pois da admiração à entidade vinha a curiosidade em saber como seria receber em seu corpo um espírito que não o seu natural, quais sensações aquilo provocaria, como se perceberia a passagem do tempo estando em transe? Dá para lembrar de algo? Tantas questões e a curiosidade sendo alimentada até que o fiel decide entrar para o corpo mediúnico sem preparo algum, não digo preparo espiritual, pois a casa umbandista está aí para preparar o filho espiritualmente durante a jornada, me refiro ao preparo mental, à maturidade das pessoas que, cegos de vaidade, ao entrar seuquer se dá conta que está firmando um contrato com o mundo e seus problemas a serem solucionados em longo prazo e não somente cumpriram um protocolo de vestir roupas brancas e atravessar o cercado que separa o filho de santo dos consultantes.

Vaidade. Criatura invisível que nos pega pelas solas dos pés, nos cega e entorpece, nos fazendo crer que somos os melhores quando por muito somos reis dentre os insetos. O orgulho em dizer que é umbandista enquanto estufa o peito e se deleita com a expressão de medo do leigo que teme por um feitiço. A vaidade de comprar sempre presentes dos mais caros ao Orixá que necessita apenas do elemental, de algo que faça fumaça ou de uma ferramenta que o caracterize. Na verdade esses mimos são para a pessoa e não para o espírito que pouco se importa com a marca ou forma da oferenda. O médium vaidoso se orgulha de sua condição de umbandista simplesmente porque isso o difere dos demais de seu círculo social e o torna dourado por fora e oco por dentro, típica pessoa que vai ao templo só quando convém sendo que o correto é ir quando convir ao próximo.

Quanto mais filosofava, mais enjoado ficava e maior era a minha aversão a qualquer religião. Foi quando cunharam em mim um nome: Ordem de Umbanda Real. Uma árvore e uma coroa como representação desse sonho, uma nova via - talvez mais simplificada - nos caminhos da religião. Confesso que até hoje não consegui decifrar o que é, mas em meus momentos de decepção e desapego me lembro da Ordem, que não é um portal ou uma tenda - nomes que indicam edificações, estruturas físicas. Uma ordem tem a ver coom união por um propósito indenpendentemente de como se classifiquem os templos ou de seu número de integrantes. E ela é real, não só de realeza mas principalmente de realidade.

Sou membro da Ordem, mas serei o único?

23 de mar. de 2011

O QUE É UMBANDA?


E alguém sabe? Conceituar a Umbanda é limitá-la a algo estático, coisa que ela não é. De todas as religiões que já tive a honra de seguir, a Umbanda é a mais flexível e abrangente de todas. Falo com conhecimento de causa.
Minha família é composta por pessoas de todos os tipos de religião, desde católicos fervorosos, católicos não praticantes, evangélicos, budistas, povo do candomblé e por aí vai até que toda essa mistura - em que já participei da maioria dos ingredientes - resultou no núcleo familiar umbandista ao qual faço parte. não sei dizer exatamente quando a Umbanda se fez presente entre nós, pois em minhas mais remotas memórias consigo pescar momentos como festas de Cosme e Damião, sons de atabaque e cheiro de charuto, doces e uma tia minha vestida de branco com chupetas na boca. Hoje - pasmem - essa mesma tia é uma de minhas filhas de santo, é meio surrealista até. Fato é que toda  minha família sempre teve um pé dentro do terreiro, nada mais natural tendo em vista que se todos forem sinceros admitirão que já foram numa casa de Umbanda, mas oficialmente o Portal dos Orixás - primeira vez que cito o terreiro que co-dirijo - nasceu do chamado do Senhor 7 Cachoeiras à minha irmã de sangue e Mãe de Santo para iniciar o desenvolvimento de seus futuros filhos. Não havia templo, não havia imagens, velas, vestimentas, atabaque ou qualquer ferramenta ritualística ali, nada além de uma mulher de fé e dois aprendizes que se doaram à doutrina umbandista. Se doar à doutrina quer dizer assumir sua condição de engrenagem na complexa engenharia da evolução do espírito rumo à perfeição, ter um objetivo maior que a sua própria existência e saber penará para conquistá-lo, atravessará encarnações semeando sem ter a intenção de colher. Aquelas três pessoas dentro daquele quarto plantaram e não sei dizer se todos os frutos daquela noite foram colhidos. Sinceramente, espero que não, espero que muitos ainda colham. Em breve narrarei mais do desenvolvimento da casa.
Em suma, Umbanda é indefinível porque ela se constrói conceitualmente a cada momento, a cada pessoa que passa a compô-la, ela abriga todas as religiões, é cristã, islâmica, indígena, africana, é o Orixá que reina em cada um. não dá para falar que Umbanda só acontece dentro do terreiro, com pessoas de branco e com fios de conta. Pois os trabalhos são uma celebração umbandista, uma fatia do ser umbandista.
Se você quiser, pode ler sobre o tema, fazer graduação em teologia umbandista, porém nada resumirá essa religião tão bem quanto a frase que o saudoso Padrinho da Federação Cobra Coral e Iansã sempre dizia:
"Umbanda não se define, a Umbanda é"

22 de mar. de 2011

PARA INÍCIO DE CONVERSA...




Post inaugural deste blog. Não sei se isto aqui será um sucesso ou não, se bem que eu nem me importo com isso, as pessoas podem nunca descobrir este canto ou talvez ler o conteúdo e achar uma droga. O fato é que meus pensamentos acerca da Umbanda, seus procedimentos e filosofia ficarão gravados aqui.
Este blog não é jornalístico e não possui qualquer intenção de ser e que isso fique claro desde já. Na verdade este blog é introspectivo, são as minhas impressões sobre o mundo e a maneira que as coisas reagem a elas, não há verdades absolutas no que digo, muito pelo contrário, talvez meu maio propósito seja questioná-las, pois eu de fato não creio na maioria delas. Me tornei Pai-pequeno com 20 anos e hoje tenho 25, pode parecer estranho para a maioria das pessoas imaginar um dirigente espiritual tão jovem e eu até entendo, para mim ainda é estranho ver meus pais de sangue, pessoas com o quase o triplo de minha idade me pedindo a bênção, gente que numa ocasião social qualquer me chamaria de moleque, dado o meu bom humor constante. Esse povo - o meu povo - me olha com atenção, me dá ouvidos e estou lá por eles, por algo maior e que ainda me esforço para compreender.
Sou extremamente racional e esse será o tom de minhas histórias, já debati com gente encarnada e desencarnada para impor meu ponto de vista, sou simplista em tudo o que faço, não espere de mim todos os rapapés e balangandãs típicos de qualquer um que esteja a frente de uma casa de Umbanda. Se bobear tenho mais jeito para obreiro, dado meu fervor, do que para Pai de Santo. Pois é, quebrei mais um paradigma.
Não uso guias, pano de cabeça ou contreguns fora dos trabalhos espirituais, também nunca deitei para santo nenhum e não me batizei, sou livre de rituais e minha mediunidade continua funcionando muito bem, obrigado. Oferendas eu faço quando o Orixá vem na terra e pede, falo mais em Jesus do que em Oxalá, quase não tomo passe e não peço nada a nenhum espírito salvo em casos de urgência e ainda assim para o próximo, não para mim. Não faço, não sei fazer e sou contra que faz certas previsões do futuro, pois acredito que isso atrapalha o progresso do ser.

Bem, esse sou eu, este é o meu blog e essa é a minha trilhada. Os passos que darei nela você acompanhará aqui. Se lhe agradar.


Axé.